“Esta saída de Ricardo Robles vem confirmar, vem demonstrar e confirmar, a enorme incoerência em que todo este processo político foi conduzido, foi gerido”, disse João Gonçalves Pereira, em declarações à agência Lusa.

Ricardo Robles anunciou hoje a sua renúncia como vereador do BE da Câmara de Lisboa, afirmando ser "uma decisão pessoal" com o "objetivo de criar as melhores condições para o prosseguimento da luta do Bloco pelo direito à cidade".

A demissão surge na sequência de uma notícia avançada na edição de sexta-feira do Jornal Económico, segundo a qual, em 2014, o autarca adquiriu um prédio em Alfama por 347 mil euros, que foi reabilitado e posto à venda em 2017, avaliado em 5,7 milhões de euros.

Na opinião do centrista, “o Bloco de Esquerda fica aqui condicionado para o futuro a falar de matérias de habitação”.

Mas, para o vereador do CDS-PP, importa agora “que Fernando Medina venha clarificar se o acordo coligatório que tinha com o Bloco de Esquerda sempre se vai manter ou não".

“Era importante essa clarificação aos lisboetas” por parte do presidente da Câmara Municipal de Lisboa e deve ser feita “tão rápido quanto possível”, afirmou.

Apontando que durante todo este processo “não se ouviu uma palavra” por parte de Medina, João Gonçalves Pereira salientou que faz também parte da equação “saber se o Bloco de Esquerda quer manter esse acordo” daqui para a frente.

Gonçalves Pereira lembrou que “houve de Fernando Medina uma opção quando chegou à Câmara, que foi falar com todos os partidos à exceção do CDS”, tendo chegado depois a um acordo de governação da cidade com o BE, que atribuiu a Ricardo Robles os pelouros da Educação e Direitos Sociais, e permitiu que o executivo tivesse maioria.

O socialista “pode sempre ir negociando com os vários partidos” a aprovação das propostas e projetos do município, mas importa também saber se está em cima da mesa, para Fernando Medina, “escolher um dos outros parceiros com que no início do mandato resolveu falar”, apontou o vereador do CDS-PP.

Numa nota a que a agência Lusa teve acesso, Ricardo Robles aponta que no domingo informou a coordenadora da Comissão Política do Bloco de Esquerda da sua “intenção de renunciar aos cargos de vereador na Câmara Municipal de Lisboa e de membro da comissão coordenadora concelhia de Lisboa do Bloco de Esquerda”.

Esta é, de acordo com Ricardo Robles, "uma opção privada, forçada por constrangimentos familiares" e "no respeito pelas regras legais", para ultrapassar aquilo que se tornou "um problema político real" e que criou um enorme constrangimento à "intervenção como vereador".

"Esta é uma decisão pessoal que tomo com o objetivo de criar as melhores condições para o prosseguimento da luta do Bloco pelo direito à cidade", conclui a mesma nota.

Na sequência da notícia do Jornal Económico, a concelhia de Lisboa do PSD pediu a demissão do vereador bloquista, acusando-o de "falta de ética, seriedade e credibilidade política".

Na sexta-feira, o até agora vereador Ricardo Robles considerou ter condições para se manter no cargo e defendeu que o pedido de demissão feito pela concelhia social-democrata não tinha “qualquer base”.

Numa nota enviada à agência Lusa no mesmo dia, o BE defendeu que a conduta de Robles "em nada diminui a sua legitimidade na defesa das políticas públicas que tem proposto e que continuará a propor".

No sábado de manhã, a coordenadora bloquista, Catarina Martins, disse que Ricardo Robles "nada fez de errado", classificando as notícias de alegada especulação imobiliária de "mentiras".