“Quinta-feira e outros dias” é o título da obra que chega hoje às livrarias e será apresentada ao final da tarde pelo antigo reitor da Universidade Católica Manuel Braga da Cruz, no Centro Cultural de Belém.
“Entendo que é altura de completar a prestação de contas aos portugueses dando público testemunho de componentes relevantes da minha magistratura, que são, em larga medida, desconhecidos dos cidadãos”, escreve Cavaco Silva no prefácio.
Com quase 600 páginas, o livro tem como parte central a coabitação entre 2006 e 2011 com o então primeiro-ministro socialista José Sócrates, com quem tradicionalmente se reunia às quintas-feiras.
De fora desta primeira obra ficam os anos do Governo de maioria PSD/CDS-PP liderado por Pedro Passos Coelho e a tomada de posse do executivo socialista de António Costa, a três meses do final do segundo mandato de Cavaco Silva em Belém.
O semanário Expresso publicou este fim de semana excertos do livro, onde o antigo Presidente da República revela que não acumulou “frustrações ou desilusões” no exercício do cargo e assegura que chegou pessoalmente realizado ao fim dos seus dois mandatos.
“Da resistência que demonstrei perante as pressões mediáticas, os histerismos ruidosos e os interesses meramente partidários para que interrompesse a legislatura de 2011-2015, dissolvendo a Assembleia da República, retirei conforto pessoal e não qualquer cansaço ou irritação”, escreve Cavaco Silva, que explica também como sempre recusou “a política-espetáculo, tão cara a muitos políticos, por proporcionar notícias e fotografias, mas que não traz qualquer benefício ao país”.
Sobre José Sócrates, revela o excerto publicado pelo Expresso, Cavaco Silva recorda a forma como, em geral, se apresentava preparado para as reuniões
“Nos primeiros anos, foram muitas as vezes em que começou por me afirmar: ‘Hoje tenho boas notícias.’ E avançava com números sobre a execução orçamental, o investimento, as exportações, o turismo ou outros dados económicos. Demorou pouco tempo até eu perceber que se tratava de uma tática de abertura do diálogo. Frequentemente, as palavras não se conformavam à realidade dos factos e passei a olhar desconfiado para as ‘boas notícias’ do primeiro-ministro”, diz o antigo Presidente da República.
Cavaco Silva deixou a Presidência da República a 9 de março de 2016, ao fim de dez anos na chefia do Estado.
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