Numa 'aula' na Universidade de verãoVerão do PSD, Cavaco Silva afirmou que hoje "é corrente apresentarem-se três casos" de países onde a realidade tirou o tapete à ideologia, enumerando França e Grécia mas sem se referir explicitamente ao caso de Portugal.
"Os governos dos países da zona euro, ao chegarem ao poder, podem começar com alguns devaneios revolucionários mas acabam por perceber que a realidade tem uma tal força que, ou através do aumento de impostos indiretos que anestesiam os cidadãos, cortes nas despesas públicas de investimento, medidas pontuais extraordinárias e cativações das despesas correntes e consequente deterioração serviços públicos ou contabilidade criativa, acabam sempre por conformar-se com as regras europeias de disciplina orçamental", afirmou.
Para o ex-chefe de Estado, esta projeção da realidade "tem uma tal força contra a retórica dos que, no governo, querem realizar a revolução socialista, que eles acabam por perder o pio ou fingem apenas que piam, mas são pios que não têm qualquer realidade e refletem meras jogadas partidárias".
"Aqueles que ainda piam, fingem que piam mas não atribuam a esses pios qualquer credibilidade porque não são mais do que jogadas partidárias", defendeu, recebendo muitos aplausos.
Cavaco foi recebido pelo presidente do PSD, Pedro Passos Coelho, que se deslocou a Castelo de Vide de propósito para assistir à aula do ex-Presidente a República e antigo primeiro-ministro.
À chegada à Universidade de Verão do PSD, Cavaco Silva disse que veio diretamente de Albufeira, tendo-se levantado às 06:00 para marcar presença nesta iniciativa de formação de jovens quadros.
Numa aula que tinha por tema "Os Jovens e a Política: Quando a realidade tira o tapete à ideologia", o antigo líder do PSD começou por se referir às chamadas 'fake news' (notícias falsas), dizendo que "não existem apenas na América do sr. Trump mas também na generalidade dos países europeus e em Portugal".
Cavaco recordou um caso de que ele próprio considera ter sido alvo, quando após um Conselho de Estado em junho de 2016 o Público noticiou que teria "estragado a unanimidade" nesta reunião quanto a uma posição comum sobre a eventual aplicação de sanções a Portugal, que entretanto não se concretizaram.
Segundo o antigo chefe de Estado, esta foi "matéria sobre a qual não pronunciara uma única apalavra no Conselho de Estado".
Ainda sobre as sanções, Cavaco Silva disse que sempre esteve "absolutamente convencido" de que nem Portugal nem Espanha seriam multados e considerou que, entre "as centenas de notícias e artigos" que foram publicados sobre o assunto no país, "tem de haver muitas 'fake news'".
Além das 'fake news', Cavaco Silva considerou que circula igualmente muita "informação efémera e pouco séria", dando como exemplos notícias, após as eleições de François Hollande em França e Alexis Tsipras na Grécia, de que as regras europeias sobre a consolidação orçamental viriam a ser suavizadas.
"O governo de Hollande, depois de alguns devaneios ideológicos, não teve outro remédio se não curvar-se perante a realidade e corrigir a política orçamental da França. O primeiro-ministro da Grécia, o presidente da Syriza, o sr. Alex Tsipras, depois de uma certa bazófia inicial, correu com o seu ministro das Finanças, pôs a ideologia na gaveta e aceitou negociar um terceiro resgate que impunha austeridade ainda mais dura", resumiu.
Recentemente, Tsipras admitiu numa entrevista que nunca equacionou a saída da Grécia do euro, questionando "para onde" iria o país se deixasse o espaço da moeda única.
"Se perguntassem aos partidos da coligação que defendem a saída de Portugal do euro para onde iria Portugal se saísse dessa galáxia, talvez respondessem para a galáxia onde se encontra agora a Venezuela", afirmou Cavaco.
Em matéria económica, o antigo ministro das Finanças e primeiro-ministro considerou que o Estado português "não é só indisciplinado mas também demasiado gordo".
"Se menos recursos fossem retirados aos privados através dos impostos, o nosso nível de desenvolvimento seria maior", defendeu, acrescentando que o sistema fiscal "perdeu lógica e coerência" e, à exceção do acordo para o IRC feito no passado, as mudanças têm sido feitas sem qualquer estudo prévio.
Na primeira vez que participou na Universidade de Verão do PSD, iniciativa com 15 anos, Cavaco apelou aos jovens que queiram seguir a vida política que não interrompam os seus estudos, para que possam ser sempre independentes.
"Na política não há certezas, ninguém deve esperar da política gratidão ou reconhecimento", afirmou.
[Notícia atualizada às 13h09]
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