"As vozes que reclamavam a saída do Euro têm vindo a esmorecer - e que são exemplos a Frente Nacional em França, a Liga do Norte em Itália e em Portugal o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda. O drama do Brexit e a evidência das dificuldades e custos para os britânicos têm-lhes servido de exemplo", afirmou Cavaco Silva, numa intervenção na Academia Política Calvão da Silva, que hoje começou em Coimbra.
Cavaco Silva lembrou uma reflexão sua num Conselho de Estado em que participou, sobre se Portugal perdia muito ou pouco com a saída do Reino Unido da UE, concluindo que o país está "na média ou abaixo da média da União Europeia no seu conjunto em termos de custos do Brexit".
"Países como a Irlanda, Dinamarca, Chipre e Malta e a Holanda esses sim, perdem muito. Nós estamos, de facto, na média. E eu confio que os nossos empresários - que durante o programa de ajustamento demonstraram uma capacidade de conquistar novos mercados - tenham a mesma energia, a mesma vitalidade para enfrentar aquelas dificuldades que vão surgir, principalmente naquelas regiões [como o Norte do país] que têm, neste momento, um comércio com o Reino Unido mais intenso", argumentou.
Ainda sobre o Brexit, o antigo chefe de Estado e ex-primeiro-ministro manifestou-se "absolutamente convencido" de que a Europa irá reagir "sem grande dificuldade" ao Brexit, embora com "alguns custos".
"Agora, a geração mais nova da Grã-Bretanha irá ser penalizada. Porque quem votou a favor da saída foi a geração mais velha, a geração abaixo dos 40 votou a favor da permanência. Mas aquela geração que vai morrer não daqui a muito tempo deixa uma herança muito pesada para os britânicos mais jovens", sublinhou Cavaco Silva.
Ao longo de mais de uma hora, o ex-primeiro-ministro e antigo líder do PSD, assumiu-se como "beneficiário político" dos social-democratas, citou Sá Carneiro ao criticar a comunicação social - "a opinião da comunicação social não é a opinião nacional", alegou - fez a defesa da UE, considerando que "goste-se ou não, a União Europeia é a construção mais extraordinária da história multissecular da Europa" e abordou as vantagens da zona Euro.
Entre outros temas, Cavaco Silva recordou a ex-primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, alegando que esta nunca teria submetido o Brexit a referendo, afirmou que a segurança da Europa "deve ser articulada com a NATO" e defendeu um maior investimento europeu em defesa e segurança, notando, no entanto, que isso "não significa um exército europeu que substitua a NATO".
Cavaco Silva lembrou também Calvão da Silva, o antigo dirigente que dá o seu nome à academia política promovida pela JSD e que foi líder distrital de Coimbra, presidiu ao Conselho de Jurisdição Nacional do partido e chegou a integrar o Governo, primeiro entre 1983 e 1985 e, mais recentemente, foi ministro da Administração Interna entre outubro e novembro de 2015, no último executivo de Pedro Passos Coelho.
O ex-Presidente da República sublinhou que Calvão da Silva, "que sempre se guiou por fazer mais e melhor, não deixaria de ficar chocado ao ouvir vozes de satisfação relativamente ao crescimento económico, quando Portugal continua a ser ultrapassado pelos países do centro e leste europeu em termos de desenvolvimento medido pelo rendimento per capita".
"E quando, entre os 19 países da zona Euro, só a Letónia e a Grécia ainda estão atrás de nós, por este caminho, mais ano menos ano, Portugal será lanterna vermelha do pelotão da zona Euro", avisou Cavaco Silva, adiantando que compete aos jovens "impedir que isso aconteça".
A academia política Calvão da Silva começou hoje e prolonga-se até domingo, dia em que está prevista a presença, entre os oradores convidados, de Manuela Ferreira Leite e do líder do PSD, Rui Rio.
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