Num artigo de opinião no semanário Expresso, Cavaco Silva acusa o Governo de António Costa de não ter seguido o mesmo método da Irlanda, depois de ter saído, tal como Portugal, “de forma limpa do Programa de Assistência Financeira que em 2021 negociara com a troika”.
Mas o antigo Chefe de Estado critica também os adversários do Governo, denunciando uma "oposição política débil e sem rumo, desprovida de uma estratégia consistente".
“Portugal continuou a crescer menos do que os países com que se deve comparar e o empobrecimento relativo, que devia ter começado a reverter, continuou a agravar-se. Tem sido o reflexo de uma vitória dos partidos da extrema-esquerda apoiantes do Governo, de cujos objetivos faz parte a fragilização dos fatores de crescimento da nossa economia, e que, explicitamente, apoiam Governos de países onde impera a ditadura e a miséria”, atira.
Para o ex-chefe de Estado, o combate à pobreza “nunca foi uma prioridade efetiva do Partido Comunista e do Bloco de Esquerda”.
No entanto, Aníbal Cavaco Silva observa que Portugal vai receber apoios financeiros da União Europeia (UE) e do Banco Central Europeu (BCE), entre 2021 e 2027, “de montante elevadíssimo, nunca antes verificado”.
De acordo com ex-Presidente da República, mesmo com os apoios não “se verificará a inversão da decadência relativa do país”, criticando as orientações de política económica do atual Governo.
“Sem uma clara mudança de rumo, que permita ultrapassar os bloqueios ao desenvolvimento económico e social, Portugal continuará a decair para a cauda da zona euro em termos de riqueza produzida por habitante. Será penoso ver o país perder uma oportunidade de ouro para se aproximar do pelotão da frente da EU”, alerta.
Com várias críticas ao Governo do Partido Socialista, Cavaco Silva afirma que o Executivo “perdeu a noção do papel do sistema de impostos no desenvolvimento económico e social do país”.
“Guiado por meros interesses eleitorais, o Governo aposta, acima de tudo, na expansão do consumo, o qual, no curto prazo, pode ser visto como um objetivo, mas não é um meio de promoção do crescimento económico sustentável e de melhoria duradoura do bem-estar da população num país de elevado endividamento como Portugal. A esta opção errada junta-se a atitude ideológica anti grandes empresas e desfavorecedora da iniciativa privada e da inovação”, indica.
Considerando o contexto pandémico irrelevante na análise do empobrecimento relativo do país, o antigo chefe de Estado refere que “o vírus atinge igualmente os outros países da EU” com que Portugal se compara e que “não serve [...] de desculpa para os erros do Governo socialista”.
“O empobrecimento do país tem estado envolto, para descrédito da nossa democracia, numa penumbra de silenciamento. Para isso têm contribuído vários fatores. Desde logo, uma oposição política débil e sem rumo, desprovida de uma estratégia consistente de denúncia dos erros, omissões e atitudes eticamente reprováveis do Governo”, acusa.
Cavaco Silva escreve ainda que muitos portugueses “têm medo de criticar o Governo”, por receio de serem prejudicados na sua vida pessoal profissional ou empresarial, incluindo de familiares.
“Para o poder socialista o mérito conta pouco, a que acresce a linguagem ameaçadora, rude e mesmo ofensiva com que ataca quem ouse criticar o Governo. Para algumas pessoas, de coluna vertebral mais frágil, o encosto ao Governo socialista é visto como a melhor posição para subirem além do princípio de Peter”, salienta.
Segundo o antigo Presidente da República, a “aposta socialista no silenciamento do empobrecimento relativo do país é uma expressão da perda de qualidade da democracia portuguesa”, sustentando que também se explica na subserviência de parte da comunicação social à lógica do Governo, à sua propaganda e desinformação, num claro afastamento dos princípios de independência e de verdade que a devem nortear, o que tem sido publicamente denunciado por conhecedores do setor”.
Atacando os vários Governos do PS, de António Guterres a José Sócrates até António Costa, Cavaco Silva diz ser “penoso verificar que, em 16 anos, já foi ultrapassado pela República Checa, a Estónia, a Lituânia e a Eslovénia e que as previsões são de que, nos próximos dois, três anos, o mesmo aconteça com a Polónia, a Hungria, a Roménia, a Letónia e a Eslováquia”.
“Nas duas décadas do século XXI, a economia portuguesa cresceu à taxa média anual de apenas 0,5%. Segundo um estudo do Banco de Portugal, a produção por habitante de Portugal em 2018 era pior do que em 1995”, acrescenta.
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