Carlos Trindade é o coordenador da corrente sindical socialista da Intersindical e vai deixar os órgãos sociais da central porque já tem 65 anos, mas isso não o inibe de participar ativamente no XIV congresso da central, que se realiza hoje e sábado, no Seixal, nem de criticar o Programa de Ação para os próximos quatro anos.

Este é o último congresso da CGTP em que participa e pretende intervir como sempre fez, manifestando as suas opiniões e posições, nem sempre consonantes com a maioria.

Carlos Trindade absteve-se na votação do Programa de Ação no Conselho Nacional e durante a discussão do documento programático no congresso promete intervir em defesa da sua posição, nomeadamente em relação à União Europeia e à filiação internacional, e apresentando propostas de alteração.

"Não me revejo na totalidade das críticas feitas no documento à União Europeia", disse o sindicalista à agência Lusa, reconhecendo, no entanto, defeitos nas políticas económicas e sociais da UE.

Mas defendeu que a UE é o melhor espaço geográfico para se desenvolver a democracia económica, social e cultural.

O documento programático da CGTP para os próximos quatro anos é também muito critico em relação ao funcionamento e objetivos da Concertação Social, o que não mereceu a concordância de Carlos Trindade.

"Apesar dos resultados negativos, é sempre positiva a participação da CGTP na Concertação Social", considerou em declarações à Lusa, defendendo que "deveria ser feito um maior esforço de negociação", afirmou.

O sindicalista disse ainda que "a análise política feita no documento não é a mais correta".

"Lamento também que o Programa de Ação não faça a referência necessária ao que os trabalhadores conseguiram com o Governo da ‘gerigonça’, apesar das coisas negativas que também foram feitas na última legislatura", afirmou.

Está satisfeito com a renovação que vai ser feita nos órgãos sociais da central, e em particular na sua corrente sindical, pois considera que o socialistas que saem vão ser substituídos por sindicalistas muito experientes.

"As minorias têm de ser pró-ativas senão desaparecem", defendeu.

Carlos Trindade sai da CGTP por limite de idade mas não pretende reformar-se já.

A CGTP tem um limite de idade para o acesso aos órgãos sociais. Ou seja, os sindicalistas não se podem candidatar a um novo mandato quando têm a perspetiva de atingir a idade de reforma nos quatro anos seguintes.

Devido a esta regra vão sair no XIV Congresso da CGTP oito elementos da Comissão Executiva, incluindo o secretário-geral, mais um que acabou de se reformar.

Por isso, Carlos Trindade vai sair e passar a liderança da corrente sindical socialista ao seu camarada Fernando Gomes, que entrou para o Conselho Nacional em 1999 e para a Comissão Executiva da Inter dois anos depois.

Carlos Trindade entrou para o Conselho Nacional da CGTP no III congresso da central, em março de 1980, e para a Comissão Executiva no VII congresso, em março de 1993, embora fosse suplente neste órgão desde 1989.

Na central sindical tem sido responsável pela área das migrações e das minorias, embora nunca tenha estado a tempo inteiro na Inter.

Depois do congresso vai continuar no Sindicato dos Trabalhadores de Atividades Diversas (STAD), como presidente da assembleia-geral, e pretende dedicar-se à formação sindical e "tentar passar a experiência que colheu" ao longo do seu percurso sindical.

Pretende também acabar o doutoramento em Ciência Política que suspendeu há alguns anos por falta de tempo.

Carlos Trindade começou a trabalhar aos 16 anos como paquete numa multinacional, cujos escritórios se situavam num edifício no centro de Lisboa, no andar acima da sede do Sindicato dos Escritórios e, por volta dos 18 anos, começou a participar nas atividades sindicais.

Depois do 25 de Abril, em maio de 1974, aos 19 anos, integrou um grupo de jovens que afastou a direção do Sindicato dos Contínuos e Porteiros do distrito de Lisboa e tomou conta da estrutura.

Foram ganhando sucessivamente as eleições para a direção do sindicato, que alargou o seu âmbito geográfico, passou a nacional, e profissional, integrando os serviços de portaria, vigilância privada e limpeza industrial, tornando-se mais tarde no STAD.

Estudou à noite até ao 25 de Abril, altura em que interrompeu os estudos para se dedicar ao sindicalismo, até 2000, quando "sentiu necessidade de arrumar as ideias".

Licenciou-se em sociologia, no ISCTE, por volta de 2006, já depois dos 50 anos, e fez o mestrado, em 2011, em História Contemporânea e Relações Internacionais.