Segundo o governante, que prestou informações no parlamento aos deputados, na primeira sessão parlamentar de 2020 que está a decorrer na Assembleia Nacional desde quarta-feira, esses trabalhos de prospeção, ao abrigo do projeto arqueologia subaquática CONCHA, que envolvem a UNESCO, estiveram concentrados essencialmente na zona da Cidade Velha, na ilha de Santiago.
“Acreditamos que debaixo de água temos a nossa maior riqueza e principais vestígios do papel estratégico que Cabo Verde teve na descoberta e na construção do novo mundo”, afirmou Abraão Vicente, aos deputados, na quarta-feira.
O ministro explicou que “não só a Cidade Velha”, a primeira capital de Cabo Verde, atual concelho de Ribeira Grande de Santiago, mas as ilhas de “Boa Vista e Maio estão no mapa arqueológico, como os três principais pontos de investigação futura”.
“Portanto, além daquele mapeamento que o Governo, através do IPC [Instituto do Património Cultural], através do projeto CONCHA, já fizeram na baía da Ribeira Grande, a extensão natural será a ilha de Maio e logo a seguir à Boa Vista”, disse Abraão Vicente.
Acrescentou que além das prospeções, o Maio poderá receber futuramente um museu “ligado ao património subaquático próximo” daquela ilha, palco, tal como a Cidade Velha e a Boa Vista, de vários naufrágios durante o período colonial.
Para este processo, o Governo de Cabo Verde já conta com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) para a formação de mais quatro técnicos cabo-verdianos, “para pesquisa e prospeção subaquática”.
“É absolutamente fascinante o que estamos a descobrir debaixo de água e é por isso que Cabo Verde assinou recentemente a convenção de proteção do património subaquático da UNESCO, no sentido também de dar um sinal”, disse Abraão Vicente.
Só a empresa luso-alemã Arqueonautas Worldwide, que manteve um contrato com o Governo cabo-verdiano para a recuperação de navios naufragados no mar de Cabo Verde, entre 1995 e 2002, afirmou em abril do ano passado que naquele período descobriu e reportou às autoridades perto de 90 naufrágios, contemporâneos e históricos, em águas territoriais do país.
Na mesma altura, o investigador da Universidade Nova de Lisboa (UNL) e consultor técnico e científico do IPC, Alexandre Monteiro, alertou que estes navios estão a ser pilhados esporadicamente por cidadãos, mergulhadores e pescadores, numa verdadeira “caça ao tesouro”.
Anteriormente, o ministro da Cultura e Indústrias Criativas cabo-verdiano revelou que recebeu uma dúzia de pedidos de empresas que querem explorar navios naufragados em Cabo Verde, mas que isso só acontecerá com a nova lei de proteção destes tesouros.
“Queremos configurar todo o quadro jurídico antes de fazer qualquer conceção, garantindo que toda a composição de barcos que façam essa exploração, contenha a presença da Polícia Nacional, da Polícia Judiciária e Polícia Marítima, no sentido de garantir que todos os bens recuperados em águas territoriais cabo-verdianas regressem a território cabo-verdiano, o que não está a acontecer”, disse.
“Mas não temos a segurança jurídica que permite fazer com que não aconteça o que aconteceu com o astrolábio de ouro que foi leiloado em Londres sem o nosso conhecimento e sem que disso tivéssemos benefício nenhum”, disse igualmente Abraão Vicente, em 2019.
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