O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, anunciou hoje que o Reino Unido deve “preparar-se” para a perspetiva de sair do período de transição no final de dezembro sem um acordo de comércio com a UE.
Questionado sobre as declarações do líder britânico no final de uma cimeira europeia em Bruxelas, na qual o ‘Brexit’ foi aliás um dos assuntos dominantes, Charles Michel assegurou que a UE permanece “disponível para negociar e para continuar as negociações”, esperando que “seja possível fazer progressos no futuro”.
Numa alusão aos trabalhos que serão retomados na próxima semana e já com o prazo apertado para este eventual acordo comercial, Charles Michel garantiu também que o bloco comunitário está “totalmente unido e determinado em trabalhar” para esse cenário, como aliás já tinha dito na quinta-feira.
E reiterou o aviso que tem vindo a ser feito pelos altos responsáveis europeus nas últimas semanas: “Repito que queremos um acordo, mas não a qualquer custo, e que a equidade de mercado, as pescas e a governança são temas cruciais para a UE e para os 27 Estados-membros”.
Entretanto, através da rede social Twitter, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, informou que, “como planeado, a equipa [comunitária] de negociação irá a Londres na próxima semana para intensificar estas negociações”.
Antes, numa declaração hoje transmitida nas televisões britânicas, Boris Johnson disse: “Tendo em conta que temos apenas 10 semanas até ao fim do período de transição, a 01 de janeiro, eu tenho de fazer uma avaliação sobre o possível resultado e preparar-nos”.
Boris Johnson acusou a UE de ter “recusado negociar de forma séria nos últimos meses” e de os líderes dos 27 terem posto de parte, no Conselho Europeu a decorrer em Bruxelas, a hipótese de um acordo semelhante ao que fizeram com o Canadá”.
“Concluí que devemos preparar-nos para, no dia 01 de janeiro, termos que são mais parecidos com os da Austrália, baseados em princípios simples de comércio livre global”, afirmou.
A Austrália não tem um acordo de comércio abrangente com a UE.
Nas conclusões adotadas durante a cimeira relativamente ao ‘Brexit’, publicadas na quinta-feira, o Conselho Europeu apelou “aos Estados-membros, instituições europeias e todos os intervenientes, para aumentarem a preparação a todos os níveis e para todos os tipos de cenários, incluindo o de ‘no-deal’ [cenário em que a UE e o Reino Unido não chegariam a um acordo comercial pós-‘Brexit’]”.
O documento indicava também que os líderes dos 27 “notam com preocupação que não houve progresso suficiente nos temas centrais para a UE para que um acordo possa ser alcançado”.
Os principais pontos de discórdia continuam a ser as condições de concorrência entre empresas, pescas e um mecanismo para se revolverem conflitos na aplicação do acordo que a UE exige para desbloquear um acordo que permita o acesso britânico ao mercado único europeu sem impor quotas nem taxas.
O Reino Unido saiu da União Europeia em 31 de janeiro de 2020. Em conformidade com o Acordo de Saída, é agora oficialmente um país terceiro, pelo que já não participa no processo de tomada de decisão da UE.
Por comum acordo, a UE e o Reino Unido decidiram, contudo, estabelecer um período de transição, que termina em 31 de dezembro de 2020.
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