A organização destacou que a subida da desflorestação no ano passado, em especial na Amazónia, “pôs o Brasil na contramão do planeta e o deixa em desvantagem no Acordo de Paris”, acrescentando que o volume de gases emitidos no ano passado foi o maior desde 2006.
Os dados são da nova avaliação do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, que todos os anos calcula quanto o Brasil gerou de poluição climática.
Em sua nona edição, o relatório calculou em 2,16 mil milhões de toneladas de gás carbónico equivalente (GtCO2e) as emissões brasileiras brutas no ano passado, contra 1,97 mil milhões em 2019.
“Descontando as remoções de carbono por florestas secundárias e áreas protegidas, as emissões líquidas do país no ano passado foram de 1,52 GtCO2e, o que representou um aumento de 14% em relação a 2019, quando elas foram de 1,34 GtCO2e”, destacou a organização.
Dos cinco setores da economia que respondem pelas emissões do Brasil, três tiveram aumento, um teve queda e um permaneceu estável.
Segundo o Observatório do Clima, o setor de energia, que respondeu por 18% das emissões do Brasil no ano passado, teve uma queda forte de 4,6%. Isso ocorreu em resposta direta à pandemia, que nos primeiros meses de 2020 reduziu o transporte de passageiros, a produção da indústria e a geração de eletricidade.
As emissões da agropecuária, que abarcaram 577 milhões de toneladas de CO2e (27% do total nacional) em 2020, também sofreram uma subida, de 2,5%. É o maior aumento desde 2010 num setor cujas emissões nos últimos anos vêm oscilando pouco.
No setor de resíduos, o relatório ponderou que as medidas de quarentena também podem ter aumentado as emissões, principalmente pela disposição de lixo em aterros sanitários e de esgoto doméstico. O crescimento das emissões deste setor foi de 1,8%, saindo de 90,4 milhões para 92 milhões de toneladas de CO2e.
Já os processos industriais permaneceram estáveis em suas emissões mesmo na pandemia. O setor oscilou de 99,5 milhões para 99,7 milhões de toneladas de 2019 para 2020, representando 5% das emissões totais do Brasil.
O relatório destacou que “quem puxou a curva para cima e tornou o Brasil possivelmente o único grande poluidor do planeta a aumentar suas emissões no ano em que o planeta parou foi o setor de mudança de uso da terra”.
“Representadas em sua maior parte pelo desmatamento na Amazónia e no Cerrado (biomas que, somados, perfazem quase 90% das emissões do setor), as mudanças de uso da terra emitiram 998 milhões de toneladas de CO2e em 2020, um aumento de 24% face a 2019 (807 milhões)”, frisou o levantamento do Observatório do Clima.
A desflorestação da Amazónia brasileira sofreu uma subida expressiva em 2020, atingindo 10.851 quilómetros quadrados segundo os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), órgão ligado ao Governo brasileiro que monitoriza os biomas do país através de satélites.
O relatório frisou que apenas na Amazónia a emissão por alterações no uso do solo alcançou no ano passado 782 milhões de toneladas de CO2e.
“Se a floresta brasileira fosse um país, seria o nono maior emissor do mundo, à frente da Alemanha. Somando o cerrado (113 milhões de toneladas de CO2e) à conta, os dois biomas emitem mais que o Irão e seriam o oitavo emissor mundial”, destacou o Observatório do Clima.
“Mudança de uso da terra mais uma vez desponta como a principal fonte de emissão do Brasil”, concluiu Ane Alencar, diretora do Instituto de Pesquisa Ambiental da amazónia (Ipam), organização responsável pelo cálculo das emissões do setor no SEEG, acrescentando que 2020 foi o ano com “as maiores emissões do setor em 11 anos, um reflexo claro do desmonte em curso da política ambiental”, que tem favorecido a retoma “das altas taxas de desmatamento”.
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