Na intervenção no debate geral da 74.ª sessão da Assembleia-geral da ONU, Boris Johnson afirmou que era costume o primeiro-ministro britânico ir às Nações Unidas e comprometer-se com a defesa das normas de um mundo pacífico, com a proteção da navegação livre no Golfo e com uma solução de dois Estados no Médio Oriente.
A Assembleia-geral da ONU começou na terça e decorre até 30 de setembro com a presença de cerca de 150 chefes de Estado e de Governo.
Quanto a estas questões, o líder do Governo britânico limitou-se a dizer ter “orgulho nisso”, para concentrar todo o discurso na importância da ética por trás das tecnologias que estão a revolucionar o mundo, e que tanto podem ser usadas para o bem, como para exercer opressão, controlo e limitar a liberdade dos cidadãos.
“Está em jogo se alcançamos um mundo orwelliano [numa referência ao escritor George Orwell] dedicado à repressão, censura e controlo, ou um mundo de emancipação, debate e aprendizagem, em que a tecnologia acaba com a fome e as doenças, mas não com as liberdades”, disse.
Durante os cerca 15 minutos de um discurso, que animou várias vezes a audiência, Johnson foi dando vários exemplos de aplicações positivas e negativas de tecnologias, como robôs que ajudam idosos ou de telefones que controlam movimentos.
“Queremos ser líderes globais na tecnologia responsável”, disse o primeiro-ministro britânico, afirmando que “Londres tem o maior setor tecnológico da Europa” preparado para utilizar a tecnologia para prevenir e curar doenças, transformar as cidades e o clima.
É “um instinto humano ter medo do avanço tecnológico”, apontou, reiterando ser totalmente a favor destes avanços.
“Rejeito totalmente esse pessimismo anticientífico. Sou otimista por natureza em termos da capacidade das novas tecnologias para nos ajudarem e redesenhar o mundo de uma maneira milagrosa e benigna”, afirmou Boris Johnson.
O líder britânico acabou por comparar a experiência do “Brexit” [saída do Reino Unido da UE] com o mito grego de Prometeu.
“Qualquer avanço científico é um castigo dos deuses”, afirmou Boris Johnson, para explicar que Prometeu deu o fogo à humanidade e, como castigo dos deuses, foi acorrentado “enquanto uma águia picava o seu fígado de novo e de novo, durante toda a eternidade”.
“O que pode parecer a experiência do ‘Brexit’ no Reino Unido se alguns parlamentares conseguissem o que queriam”, disse.
Estas declarações chegam horas depois de o Supremo Tribunal britânico ter julgado ilegal a suspensão do Parlamento decidida por Boris Johnson, até duas semanas antes do prazo para a saída do país da UE.
Na leitura da decisão, a juíza, Brenda Hale, disse que “a decisão de aconselhar Sua Majestade [a rainda Isabel II] a suspender o Parlamento foi ilegal por ter o efeito de frustrar ou impedir a capacidade do Parlamento de desempenhar as funções constitucionais sem uma justificação razoável”.
O Parlamento britânico vai retomar os trabalhos hoje, às 11:30 (mesma hora em Lisboa), sem o debate semanal com o primeiro-ministro britânico, mas com a possibilidade de “perguntas urgentes, declarações de ministros e pedidos de debates de urgência”, anunciou o presidente da Câmara dos Comuns, John Bercow.
Comentários