O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, chegou mesmo a afirmar que não apoia a demonstração marcada para a manhã de hoje, na qual as Forças Armadas vão promover um desfile na Esplanada dos Ministérios com tanques e armamentos.
Apesar de afirmar que se trata de um desfile inédito, Lira não acredita que este esteja relacionado com a votação que está agendada para hoje na Câmara dos Deputados e que pede o regresso do voto impresso ao país, amplamente defendido por Bolsonaro.
“No país polarizado, isso dá cabimento para que se especule algum tipo de pressão. Entramos em contacto com o Presidente Bolsonaro, que garantiu que não há esse intuito. Mas não é usual, é uma coincidência trágica (…). Isso apimenta este momento”, afirmou Lira.
No entanto, o presidente da Câmara dos Deputados abriu a possibilidade de adiar a votação da proposta para evitar a coincidência de datas.
Contudo, a tese de "coincidência" não é unânime, com a imprensa local e parlamentares a avaliarem que o desfile com tanques militares no mesmo dia da votação é uma demonstração de força do chefe de Estado e uma forma de intimidar e pressionar o Congresso pela aprovação da proposta de emenda constitucional (PEC) do voto impresso, que se prevê que saia derrotada.
“Os tanques de guerra para o exibicionismo golpista de Bolsonaro já estão posicionados. Bolsonaro está dobrando a aposta e a reação dos democratas desse país precisa ser enérgica”, escreveu a deputada do Partidos dos Trabalhadores (PT) Erika Kokay, na rede social Twitter, partilhando imagens dos tanques estacionados na capital brasileira.
"Alguns avisos ao senhor inquilino do Palácio do Planalto: 1) Colocar tanques na rua não é demonstração de força, e sim de covardia; 2) Os tanques não são seus, pertencem à Nação; 3) Quer tentar golpe senhor Jair Bolsonaro? É o crime que falta para lhe colocarmos na cadeia", disse, por sua vez, o líder da oposição no Senado, Randolfe Rodrigues.
Apesar de a operação ocorrer anualmente em Formosa, no estado de Goiás, é a primeira vez que os tanques passarão pelo centro de Brasília, de acordo com a imprensa brasileira.
"Presidente do Supremo Tribunal Federal, Câmara Federal, Senado, Tribunal de Contas da União, Tribunal Superior Eleitoral, Supremo Tribunal de Justiça, Tribunal Superior do Trabalho, Deputados, Senadores...Como ocorre desde 1988, a nossa Marinha realiza exercícios em Formosa/Goiás. Como a tropa vem do Rio, Brasília é passagem obrigatória. Muito me honraria sua presença (...), onde receberei os cumprimentos da Força e lhes desejarei boa sorte na missão", escreveu Bolsonaro no Facebook, assinando o convite como "Chefe Supremo das Forças Armadas".
Segundo a Marinha do Brasil, a Operação Formosa envolverá mais de 2.500 militares das três Forças, sendo a primeira edição em que Exército e Aeronáutica participam.
No total, serão 150 diferentes equipamentos, entre carros de combate, blindados, aeronaves e lançadores de mísseis e foguetes.
O desfile ocorre num momento em que Bolsonaro tem ameaçado com a não realização de eleições presidenciais no próximo ano, caso o voto impresso não volte a vigorar no país.
O chefe de Estado tem feito reiteradas críticas às urnas eletrónicas que o país adotou em 1996 e que, segundo a grande maioria dos partidos políticos e a própria justiça eleitoral, acabaram com a fraude nas eleições.
Jair Bolsonaro tem sustentado que esse sistema favorece fraudes que, segundo disse, ocorreram nas anteriores eleições, inclusive aquelas que o levaram ao poder em 2018. Contudo, Bolsonaro continua sem apresentar provas das acusações que tem feito.
A pressão de Bolsonaro pelo voto impresso aumentou à medida que a sua popularidade caiu nas sondagens eleitorais, que classificam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seu maior adversário, como favorito para 2022.
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