“Há uma discussão agora, se eu vou vacinar-me ou não. Eu vou decidir. O que eu acho? Eu já contraí o vírus. Eu acho que o que deve acontecer é: depois que o último brasileiro for vacinado, se sobrar uma vacina, então eu vou decidir se me vacino ou não. Esse é o exemplo que um chefe deve dar. Igual ao quartel. Geralmente o comandante é o último a se servir. É o que dá exemplo a todos”, disse Bolsonaro, na sua habitual transmissão semanal na rede social Facebook.
Bolsonaro, de 66 anos e um dos chefes de Estado mais céticos em relação à gravidade da pandemia em todo o mundo, chegou a dizer publicamente que não iria receber a vacina contra o SARS-Cov-2, afirmando que pode provocar efeitos secundários, posição que provocou receio em algumas parcelas da sociedade.
Segundo informações oficiais, 18,5 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 já foram aplicadas até ao momento no Brasil, num plano que avança lentamente, devido a dificuldades que o executivo brasileiro enfrenta na sua aquisição.
Na sua transmissão em vídeo de quinta-feira, o chefe de Estado mostrou-se esperançoso com um novo medicamento para o tratamento da covid-19.
“Já chegou à Anvisa [órgão regulador do Brasil] a proxalutamida. É um medicamento que é desenvolvido conjuntamente com os Estados Unidos. Não é só nosso não, está? Em conjunto com os investigadores americanos, de modo a que tenhamos então, mais cedo ou mais tarde, um remédio eficaz para combater a covid-19″, informou o governante, que desde o início da pandemia tem defendido o uso de fármacos sem eficácia comprovada contra a doença, como hidroxicloroquina.
Bolsonaro negou ainda na quinta-feira que faltem no país camas de unidades de terapia intensiva (UTI), contrariando vários órgãos de saúde e hospitais que dão conta de um colapso hospitalar em vários estados.
“As informações que nós temos, pelo Brasil todo, é que não estão faltando camas de UTI. Chega em 95%, 90% [taxa de ocupação], mas não tem faltado. E, se tiver faltando, [é porque] está a faltar planeamento por parte dos interessados. Porque o Governo não mede esforços para liberar camas de UTI”, declarou o Presidente, voltando a criticar medidas de isolamento social para travar a disseminação do vírus.
“O meu Exército brasileiro não vai sair às ruas para prender as pessoas ou não vai impedi-las de trabalhar”, reforçou, lançando duras críticas a governadores e prefeitos que decretaram confinamento obrigatório em várias regiões.
No momento em que Bolsonaro iniciava a sua transmissão em direto na quinta-feira, o ex-presidente do Brasil Lula da Silva concedia uma entrevista ao jornalista Reinaldo Azevedo, duro crítico da gestão do histórico líder do Partido dos Trabalhadores (PT). Segundo a imprensa local, a entrevista de Lula teve uma audiência 18 vezes superior à de Bolsonaro nas redes sociais.
Com várias críticas dirigidas a Bolsonaro, Lula, que voltou a ser elegível e recuperou seus direitos políticos, classificou o atual chefe de Estado de “genocida” e admitiu a possibilidade de o PT procurar alianças com partidos do centro para as presidenciais de 2022.
“Espero que Bolsonaro esteja a assistir a esta entrevista. Porque queria mandar um recado para ele: Deixe de ser ignorante, Presidente. Quando tiver vacina para todo mundo, aí todo mundo vai querer voltar a trabalhar. E o país vai crescer”, disse Lula.
“Pare de ‘brigar’ com a Ciência. Pare de falar para os seus milicianos, fale para 220 milhões de pessoas”, acrescentou o antigo chefe de Estado, dirigindo-se a Bolsonaro.
O Brasil, que atravessa o momento mais crítico na pandemia, totaliza 325.284 óbitos e 12.839.844 diagnósticos de infeção desde que o primeiro caso foi registado no país, há cerca de 13 meses.
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