"Nunca me passou pela cabeça que iria ser nomeado cardeal. Fui apanhado completamente de surpresa", disse aos jornalistas, António Marto, numa conferência de imprensa após ter sabido que foi hoje nomeado pelo papa para o Conselho dos Cardeais.

"A minha recente nomeação para cardeal apanhou-me de surpresa um pouco antes de celebrar a eucaristia das 11:30 na Sé de Leiria", reforçou António Marto.

Segundo o novo cardeal, a notícia foi recebida via 'voice mail', com uma mensagem deixada do "núncio apostólico, que tinha acabado de ouvir a nomeação dos cardeais através da televisão".

António Marto revelou ainda que a emoção com que foi surpreendido obrigou-o a conter as lágrimas que lhe vieram aos olhos. "Tive de me dominar para não dar a entender nada àqueles que me rodeavam. É um serviço que a Igreja me pede e nunca o neguei, encontrei a tranquilidade de espírito nesta atitude da minha disponibilidade de colaborar com o Santo Padre nesta nova responsabilidade e neste novo serviço que ele me pede", afirmou.

Refutando qualquer possibilidade de vir a ser papa - "nem ponho essa hipótese" - António Marto também não se vê a mudar para a Cúria: "Já não tenho idade para isso. Gostaria de terminar aqui o meu ministério episcopal. Nunca me subiu o poder à cabeça nem aspiro a lugares de poder. Para mim a autoridade é um serviço, e por isso é um dever."

A sua simplicidade e humildade, que salientou ao longo do seu discurso, leva-o a admitir que não se importaria de não usar os trajes de cardeal.

"Chegará o momento em que os cardeais se apresentem com mesma simplicidade com que o papa Francisco se apresenta. Desejarei dizer isso ao Santo Padre, mas ele terá a última palavra", afirmou, referindo-se ao uso de uma batina "sem aqueles vermelhos, sem aqueles chapéus cardinalícios". "Acho que isso é dispensável."

António Marto afirmou ainda que não falou com o papa Francisco, nem tenciona fazê-lo pessoalmente nos próximos tempos.

"Naturalmente que lhe escreverei uma carta a agradecer este ato de confiança pessoal e a pôr-me na disponibilidade para os serviços que ele pedir", informou, ao referir que espera manter as suas funções na diocese de Leiria-Fátima.

Para o bispo de Leiria-Fátima, esta nomeação assentará em três aspetos que "se complementam".

"Em primeiro, é um serviço que o papa pede para o ajudar no governo, no ministério do bispo de Roma e pastor da igreja universal. Ele precisa de conselheiros, que constituem o colégio cardinalíssimo", começou por adiantar.

Outro aspeto será "uma maior ligação entre a sé de Pedro e as igrejas particulares". Logo, "uma maior ligação entre a sé de Pedro e a diocese de Leiria-Fátima, para a qual "terá contribuído a celebração do centenário, em que o papa experimentou ao vivo o que significa Fátima para a igreja universal e para o mundo".

"O terceiro aspeto é um ato de confiança pessoal do papa na minha humilde pessoa. Já estive em duas audiências com o santo Padre, conhece bem o que penso e sabe que tem em mim um apoiante na reforma que está a fazer na igreja: uma reforma na igreja mais evangélica, mais próxima, mais misericordiosa e nisso ele pode contar comigo."

António Marto admitiu ainda que esta nomeação poderá ser positiva para Portugal "quer a nível eclesial quer a nível diplomático".

Família, jovens e purificação a Igreja são alguns dos temas que António Marto poderá abordar com o papa.