"A frustração levou Donald Trump à Casa Branca", lançou Ben Bernanke, durante a sua intervenção no jantar de arranque dos trabalhos do Fórum do BCE.
Segundo Bernanke, "Trump merece crédito" por ter conseguido captar a simpatia da maioria dos eleitores norte-americanos que estavam desiludidos com a situação dos Estados Unidos da América (EUA) no período que se seguiu à grave crise financeira iniciada em 2007.
O ex-líder da Fed catalogou as políticas económicas de Donald Trump como "um 'mix' [mistura] entre o populismo e as ideias republicanas", sublinhando que "a eleição de Trump lança uma importante mensagem: o crescimento não é suficiente".
Antes, Bernanke já tinha vincado que a recuperação económica nos EUA, a exemplo do que aconteceu na Europa, ficou muito a dever-se à política monetária seguida, com as taxas de juro diretoras a baixarem para níveis historicamente baixos e que "há muito trabalho a fazer", apesar de "as condições económicas parecerem estáveis".
E destacou: "O foco está a começar a mudar para as mudanças estruturais e de longo prazo".
Na sua opinião, nos EUA, "a recuperação parece ser duradoura", com o mercado laboral a caminhar na direção certa, o mercado imobiliário a recuperar e o consumo a observar uma subida significativa.
"Há fundamentais positivos de longo prazo", assinalou, apontando para o "grande mercado" doméstico norte-americano, para a estabilidade proporcionada pelo Governo federal e para a evolução demográfica mais positiva do que noutras zonas do mundo, num país que "continua a liderar na inovação".
Ainda assim, observou, "os americanos parecem extremamente desapontados com a economia".
E avançou para as quatro razões que, no seu entender, estão na base do pessimismo dos norte-americanos.
Desde logo, a estagnação dos salários, que implica que, "apesar do crescimento económico, a classe média continua a lutar para manter a sua qualidade de vida".
Depois, de acordo com o antigo líder da Fed, há uma quebra na mobilidade social ascendente nos EUA, há uma subida da mortalidade da classe média - além de um elevado nível de população reclusa, sobretudo, afro-americana, que devido ao cadastro tem dificuldades de voltar ao mercado laboral - e há uma falta de confiança no Governo federal.
"A estagnação dos salários, a mobilidade social ascendente, o falhanço social e a alienação política" são as quatro razões destacadas por Bernanke para o pessimismo dos cidadãos dos EUA.
Além disso, notou o responsável, "na última década os ganhos de produtividade foram mínimos" nos EUA, que enfrentou a "recuperação da Europa e do Japão, as economias emergentes e o papel da China".
Bernanke também falou da Europa, considerando que "também partilha alguns dos problemas dos EUA, como o crescimento do populismo".
Porém, o especialista salientou que o BCE "é uma entidade respeitada" e que as políticas monetárias levaram a uma melhoria da economia dos países europeus.
"Houve países que tiveram sucesso, incluindo Portugal", declarou, sublinhando que "na Europa, o ajustamento macroeconómico ainda não está completo".
Já nos EUA "há desconfiança quanto à capacidade de o Governo federal corresponder à expectativa" dos cidadãos, acrescentou.
"Na Europa, o ponto de partida é diferente. Nos EUA já há uma economia continental e, na Europa, ainda se está a percorrer esse caminho", afirmou, frisando as dificuldades na "acomodação das leis europeias e nacionais".
E rematou: "Em termos gerais, o crescimento económico é uma coisa positiva. Dá mais oportunidades para os cidadãos e para os governos. Mas nem sempre é suficiente".
O BCE volta a reunir em Sintra, a partir de hoje, cerca de 150 personalidades do mundo da política monetária e financeira para debater o investimento e o crescimento das economias desenvolvidas.
Mario Draghi deu início aos trabalhos, com o habitual discurso num jantar de boas-vindas às dezenas de economistas e responsáveis internacionais que participam no 'ECB Forum on Central Banking', em Sintra, que é dedicado este ano ao ?Investimento e Crescimento nas Economias Desenvolvidas'.
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