Os primeiros cadeados foram colocados no denominado Barku d’Speransa (barco de esperança) em março pelo ministro da Cultura e das Indústrias Criativas, Abraão Vicente, que ofereceu o monumento à comunidade, ficando ao cuidado da Associação Comunitária Amigos de Safende (ACAS).
E o local foi escolhido simbolicamente: o Alto de Safende, um miradouro que é considerado uma das sete maravilhas do bairro, com vista panorâmica para outras zonas da cidade da Praia.
Com proa direcionada para o Porto da Praia, o monumento é inspirado na Pont de l’Archevêché, ou Ponte dos Namorados, que atravessa o rio Sena e perto da Catedral de Notre Dame, em Paris, França.
Adalberto Varela, 32 anos, é um dos voluntários da Associação Comunitária Amigos de Safende e disse que o barco é uma forma de atrair esperança e paz para o bairro, um dos mais problemáticos da capital do país e que neste momento está “muito inseguro”.
“O barco acaba por ajudar, a partir do momento que os safendenses forem sensibilizados sobre qual a sua importância, de o conhecerem, porque pode ter um grande valor, e já tem”, salientou à agência Lusa o também guia turístico, artesão e marinheiro, natural de Safende, mas que passa a maior parte do tempo em São Vicente.
Mas neste momento vive no bairro que o viu nascer e colabora com a associação em questões relacionadas com a arte, sendo um deles o barco de esperança, que já conta com 51 cadeados pendurados, número que ainda não satisfaz.
“Pretendemos que o barco se encha de cadeados”, disse Adalberto Varela, que tem a missão de sensibilizar a população local para a importância do acervo.
“Pode não ter uma importância que seja atualmente económica, financeira, mas acaba por ganhar no futuro, nunca se sabe, a partir do valor cultural que acaba por adquirir, mas tudo isso é trabalho de nós, como agentes comunitários, da associação comunitária, de preservar, promover o acervo”, disse.
Um dos projetos da associação é ter um museu comunitário e realizar exposições itinerantes, pelo que o barco poderá ser levado a outros bairros da Praia e até mesmo a outras ilhas de Cabo Verde, sempre com a mesma ideia de servir de fonte de esperança e paz, afirmou o voluntário.
Além disso, Adalberto Varela espera que o acervo também sirva de inspiração para reabilitar o Alto de Safende, para que tenha condições de atrair visitantes e turistas.
“A ideia seria isso mesmo porque o barco ganhando valor a instalação teria que ter qualidade, segurança, porque é um acervo que está exposto a céu aberto, acaba por ter necessidade de manutenção, preservação, de proteção”, salientou.
Por outro lado, disse que precisa ser protegido de atos de vandalismo, apontando as redes colocadas no início e que pouco mais de dois meses depois já estão danificadas, já que também é local onde crianças e adolescentes brincam.
A casa mais próxima do miradouro e do barco é a do senhor Manuel Baessa Ferreira, 58 anos, guarda numa escola primária local e que faz um segundo turno como “guardião” do acervo.
“Dou-lhe uma vista de olhos de vez em quando. Tento evitar que seja danificado”, disse à Lusa o morador, que ainda não colocou o seu cadeado, mas garantiu que os restantes membros da família já fizeram o gesto em nome da esperança e da paz.
Quando instado a falar sobre o bairro, o diagnóstico de Manuel Ferreira não é nada animador. “Não há muita educação. Estragam tudo. E eu de vez em quando tento impedir”, afirmou o morador, que além de segurança, pede manutenção da estrada de acesso e uma linha de autocarro para o cimo de Safende.
“Aqui estamos atrasados, muito atrasados”, lamentou o morador do local onde já funcionou um quiosque agora abandonado, mas também onde opera atualmente um centro multiúsos.
Na altura da inauguração, o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas sublinhou que o barco é um monumento construído pela própria comunidade, colocado no cimo de Safende e que representa um ato de esperança.
Qualquer pessoa que passe pelo local pode pendurar o seu cadeado e fitas, para selar a amizade, o amor, o compromisso, a esperança e paz.
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