Diário de um pai em casa. Dia 24


Covid-19. Pela televisão, de manhã à noite, e através dos mais variados órgãos de comunicação social, entram diversos números sobre pessoas vs economia, conferências de imprensa, gráficos, estatísticas e prognósticos sobre a pandemia. No multiscreem informativo onde estou mergulhado, tenho deitado os olhos a outros números redondos. Surgem através dos canais televisivos desportivos que têm sido um fiel amigo nestes dias de quarentena.

Gosto, sempre gostei, note-se, de ver desporto na televisão. Futebol, râguebi, ténis, surf e ciclismo ocupa o meu top 5 da atualidade. A Fórmula 1, para mim, “morreu” com a morte de Ayrton Senna e o fim de carreira de Nigel Mansell.

O direto, não é um critério. Vejo, em especial râguebi e ténis, com alguns dias de atraso com a mesma adrenalina como se estivesse a ver in loco.

Nos últimos anos, o futebol tinha vindo a perder espaço na audiência cá em casa. Culpa do excesso de oferta, por um lado, e, acima de tudo, pelos milhares de horas de programas televisivos, que pouco, ou nada acrescentam, a não ser discutir de forma menos nobre sobre decisões, seja do árbitro ou do VAR.

Ora, com o mundo em pausa a todos os níveis, sem regresso à normalidade à vista, nada melhor que revisitar a história nas competições desportivas, também elas em standby.

As possibilidades são múltiplas. E tenho aproveitado, e de que maneira. Canais desportivos nacionais, Sport TV, canal 11, Eleven Sports, A Bola TV, Eurosport, canais de clubes, Sporting, Benfica e Porto Canal, internacionais, como a Sky Sports ou Canal +.

A grelha assemelha-se a uma enorme RTP Memória monotemática. Há reposição de clássicos, mais ou menos distantes, para todos os gostos. E há espaço para nos servir com a presente época, ainda, por finalizar. Um alimento que serve para manter viva a esperança de, a qualquer momento, o direto voltar a escrever-se no canto superior esquerdo da televisão.

Dou um exemplo do que tenho visto ad nauseam. A meia-final do campeonato da Europa de futebol, disputado em França. O tal França-Portugal (3-2) que inaugurou uma malapata nacional com a seleção gaulesa. Ou o encontro Portugal-Inglaterra (3-2), no Euro 2000, em que entrou em campo a melhor equipa nacional de sempre. Pelo menos, para mim.

E que deleite e prazer tem sido rever, não os jogos por inteiro, admito, mas lances e golos, por diversas vezes.

Tal como o “Sozinhos em Casa” ou “Música no Coração”. Sei como estes dois clássicos acabam. O resultado, o fim, mas não é esse pequeno grande pormenor que me impede de me sentar a ver. E de dar prognósticos com certeza matemática muito antes do desfecho do encontro.

O reviver do passado serve de antídoto ao presente e futuro que vivemos com a pandemia. Da qual não sabemos o que vai passar a seguir. Nem como sairemos dela.

Revisitar o futebol, sem o ruído diário à volta do árbitro ou do VAR, fez-me despertar a paixão que tenho, e sempre tive pelo jogo. Tem sido um ponto positivo do confinamento.

No entanto, todo o lado bom, tem um reverso menos bom. Este visionamento da história, despertou-me para uma realidade, que vivia numa gaveta na minha cabeça. Não vejo o meu clube ganhar assim tantas vezes como pensava que tinha ganho. Nem num passado distante, nem na presente época. Se calhar, é porque não ganhou. Algo que a quarentena tem vindo a mostrar. Para o mal. E quando me apercebo da realidade, mudo de canal. Para um outro jogo qualquer. De preferência de râguebi ou ténis.