Discreto e sorridente, o socialista de 63 anos receberá a nomeação nesta sexta-feira, mas começará formalmente o mandato no domingo, em mais uma etapa da renovação das autoridades da União Europeia.

Como presidente do Conselho Europeu, Costa presidirá os encontros de cúpula de chefes de Estado e de Governo, conhecidos pelas reuniões intermináveis e acordos súbitos alcançados por meio de consultas diretas entre líderes.

O papel de Costa será identificar as áreas em que o interesse coletivo se sobrepõe às preocupações nacionais, além de conduzir os dirigentes a consensos, que, à primeira vista, são muito difíceis.

O seu antecessor, o belga Charles Michel, provocou situações desconfortáveis ao apresentar-se como uma figura central da política da UE, mas pessoas próximas a Costa concordam que o português tem um estilo mais discreto.

Antes de assumir o cargo, Costa visitou as capitais do bloco e reuniu-se com presidentes e primeiros-ministros para conhecer as suas expetativas sobre questões prioritárias e métodos de trabalho.

Uma fonte do Conselho Europeu mencionou que as prioridades de gestão de Costa serão o apoio à Ucrânia na sua guerra com a Rússia, a defesa, a competitividade, a migração e o orçamento de longo prazo da UE.

Além disso, o português está interessado em manter uma relação melhor com a poderosa presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, que iniciará o segundo mandato à frente do poder Executivo do bloco.

Nos últimos cinco anos, as tensões permanentes e visíveis entre Michel e Von der Leyen afetaram o nível de cooperação nas instituições da UE.

Ex-parlamentar no seu país, ex-vice-presidente do Parlamento Europeu, Costa tornou-se primeiro-ministro de Portugal em 2015, depois de estabelecer uma aliança de esquerda.

Com a aliança, Costa mostrou toda a sua capacidade para negociar acordos e construir consensos.

Negociador hábil

Em 2020, as habilidades de negociação de Costa desempenharam um papel central para convencer o primeiro-ministro da Hungria, o ultranacionalista Viktor Orbán, a suspender o seu bloqueio ao enorme plano de recuperação económica pós-pandemia desenvolvido pela UE.

A trajetória de Costa sofreu uma reviravolta em 2023, quando foi forçado a renunciar devido a uma investigação de corrupção contra o seu governo. A investigação concluiu que não havia indícios de crimes por parte do então primeiro-ministro.

A conclusão reforçou a campanha de vários países, em particular do francês Emmanuel Macron e do espanhol Pedro Sánchez, que têm uma relação pessoal próxima com o português, para que ele assumisse o comando do Conselho Europeu.

Costa será a primeira pessoa de origem não europeia a assumir a presidência de uma das principais instituições do bloco. O seu pai, o escritor comunista Orlando da Costa, nasceu em Moçambique numa família originária de Goa, uma ex-colónia de Portugal na Índia. A sua mãe, Maria Palla, é uma famosa ativista feminista em Portugal.

Costa, que nasceu em Lisboa, recebeu em 2017 do primeiro-ministro indiano Narendra Modi um documento honorário de cidadão estrangeiro da Índia, um gesto para consolidar os laços entre os dois países.

A equipa de Costa afirma que a sua experiência pode ajudá-lo a construir pontes com regiões do mundo que a UE procura alcançar.

"Precisamos ter relações mais estreitas com diferentes regiões e países que sejam relevantes num mundo que é muito mais do que o G7 ou o G20", disse Costa numa entrevista recente.