“O que se pretende com a politização da vinda do corpo e o aproveitamento político não se vai consumar, pelo contrário, o governo está exposto. Está exposto por que tratou mal o ex-chefe de Estado, que, apesar de todos os erros que cometeu, ainda assim merecia mais dignidade”, disse o dirigente da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), após assistir a um culto ecuménico em prol de eleições pacíficas, em Luanda.
Nelito Ekuikui criticou ainda a forma como os restos mortais que chegaram no sábado à noite a Luanda, “sem honras militares, apesar de ter sido comandante em chefe das Forças Armadas”.
As filhas mais velhas do antigo chefe de Estado, que governou Angola durante 38 anos — Isabel e Tchizé dos Santos – e nomeou como seu sucessor o atual presidente, João Lourenço, que se recandidata ao cargo, lamentaram nas redes sociais a receção do corpo em Luanda, que consideraram pouco prestigiante e inadequada.
O corpo de José Eduardo dos Santos foi entregue, por decisão de um tribunal espanhol, à viúva, Ana Paula dos Santos, mãe de três dos oito filhos do antigo Presidente, contra a vontade dos outros cinco filhos, que não foram avisados da trasladação.
Isabel, a braços com a justiça em Angola e outros países devido a acusações de corrupção, e Tchizé, antiga deputada do MPLA, partido do pai, no poder desde 1975, vivem há vários anos no exterior e dizem ser vítimas de perseguição pelas autoridades angolanas.
“(José Eduardo dos Santos) liderou o país durante 38 anos, cometeu erros, muitos, mas ainda assim, fazer tudo às pressas, tirar proveito político… acho que não foi justo e o tempo vai provar que sim”, disse o dirigente da UNITA, principal partido da oposição angolana, que travou durante quase 30 anos uma longa guerra contra as forças governamentais do MPLA de José Eduardo dos Santos, que terminou em 2002 com a morte do Jonas Savimbi, o fundador da UNITA.
Sobre se a UNITA participará nas exéquias, depois de o partido ter estado ausente no velório organizado pelo governo angolano logo após a morte do ex-presidente, quando decorria ainda em Barcelona uma disputa judicial pela custodia dos restos mortais entre duas fações da família, Nelito Ekuikui afirmou que “enquanto continuar a ser uma agenda política e não uma agenda humanitária, uma agenda familiar a UNITA continuará a não estar presente”.
Angola vai a eleições no próximo dia 24 de agosto e a chegada do corpo de José Eduardo dos Santos acontece na reta final da campanha eleitoral, coincidindo com o encerramento da campanha eleitoral do MPLA que realizou no sábado o seu último grande ato de massas para demonstrar a sua força ao eleitorado.
O anúncio da decisão das autoridades espanholas foi feito na manhã de sábado, mas João Lourenço não fez nenhuma alusão ao seu antecessor durante o seu discurso.
Admite-se que o funeral possa ser realizado no dia 28 de agosto, a data em que José Eduardo dos Santos cumpriria o seu 80.º aniversário, mas ainda nada foi anunciado oficialmente.
“Se for um funeral político não vamos, de certeza”, respondeu Nelito Ekukui, questionado sobre esta possibilidade.
“Se for realizado pela família e o Estado participar, nós estamos lá. Agora a tentativa de politizar o óbito do ex-presidente, coincidência de datas num clima de eleições, algo aqui não está bem explicado”, comentou.
E rematou: “não nos vamos distrair com este processo, existe uma Angola, existe um futuro a construir. Erros do passado têm de ser corrigidos e é preciso a participação dos angolanos, não podemos distrair-nos com o passado nem com coisas que já não são assunto”.
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