Manuel Augusto explicou que Luanda acolhe a reunião extraordinária do órgão para a Política, Defesa e Segurança da Comunidade de Desenvolvimento de Países da África Austral (SADC), presidido por Angola, em que participam os chefes de Estado angolano, zambiano, sul-africano, além do ministro dos Negócios Estrangeiros da Tanzânia.
“Como todos estão a acompanhar, há uma situação muito preocupante no Zimbabué, que configura um momento de tomada de poder anticonstitucional, embora não consolidado, porque o Presidente [Robert] Mugabe continua no poder, mas sabemos que há uma situação anormal”, descreveu Manuel Augusto, em declarações à televisão pública angolana.
Segundo o governante angolano, é responsabilidade e competência do órgão analisar as situações de paz e segurança na região, nesse sentido, o Presidente de Angola, João Lourenço, convocou de imediato esta reunião.
O chefe da diplomacia angolana reiterou que “a situação é de emergência”, exigindo a realização deste encontro, para se analisar a melhor forma de se ajudar Zimbabué “a ultrapassar este momento difícil e sobretudo a voltar à sua ordem constitucional normal”.
Manuel Augusto rejeitou a informação de que Robert Mugabe tenha já renunciado ao cargo de chefe de Estado do Zimbabué, respondendo a um ultimato dado pelo seu partido político, a ZANU-PF.
“Tanto quanto sabemos, o Presidente não obedeceu ao ultimato que lhe foi feito pelo seu partido político, a ZANU, em sessão realizada há dias, em que lhe pediam que abdicasse até hoje ao meio dia e por isso mesmo temos informações de que a ZANU, através do seu grupo parlamentar, estará a preparar-se para a partir de amanhã desencadearem um processo de ‘impechement’, que é um ato de impugnação do Presidente Mugabe, que é algo previsto na Constituição”, referiu.
Com base nessas informações, informou Manuel Augusto, a SADC vai reunir-se terça-feira, em Luanda, encontro do qual sairão “de certeza” decisões no sentido de tudo se fazer, enquanto região, para ajudar o Zimbabué a sair dessa situação.
“Um ponto é assente: a nossa região, o seu órgão, que é a SADC, não apoiam a tomada de poder por meios inconstitucionais. Isto é, nós não apoiamos nenhum golpe de Estado e não gostaríamos que o Zimbabué fosse um precedente”, disse.
De acordo com o ministro das Relações Exteriores angolano, as mensagens que têm sido enviadas às forças de defesa do Zimbabué são nesse sentido.
“Vale aqui dizer que, de facto, até agora a situação é pacífica, não se conhecem quaisquer indícios de violência, o que já é um bom passo para se encontrar uma solução negociada e que leve o Zimbabué a preparar-se para as eleições que já estão marcadas para 2018″, frisou.
O posicionamento da SADC é igualmente partilhado por Angola, disse Manuel Augusto, sublinhando que, “de maneira nenhuma”, o país lusófono pode “apoiar um golpe de Estado”.
Manuel Augusto referiu que o órgão será “suficientemente pragmático e realista” para agir, não só em conformidade com o que se passa no Zimbabué, mas com os legítimos anseios do povo zimbabueano”.
Do encontro, reforçou o chefe da diplomacia angolana “podem sair várias coisas, nomeadamente o estabelecimento de um mecanismo de contacto entre o órgão e as autoridades zimbabueanas”, para se perceber bem até que ponto pode ser a ajuda, sem interferência nos assuntos internos do Zimbabué.
“Mas a situação é muito preocupante, requer essa urgência e todas as medidas serão consideradas, no sentido de sempre levar as partes do Zimbabué ao diálogo e que seja respeitada a normalidade constitucional no Zimbabué”, salientou.
O Presidente da Zâmbia, Edgar Lungu, já se encontra em Luanda, e reuniu hoje com o seu homólogo angolano, João Lourenço, sendo aguardado ainda hoje o chefe de Estado da África do Sul, Jacob Zuma, presidente em exercício da SADC.
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