“O racismo estrutural é um fantasma que não existe em Portugal, é um fantasma que nos querem trazer para a discussão de temas ou para esconder outros, como foi o caso do Novo Banco, como foi o caso de vários casos de corrupção que nas últimas semanas viemos a saber”, afirmou o deputado.
André Ventura, que é também líder demissionário do Chega, falava na Assembleia da República, em Lisboa, naquela que foi a última declaração política a que tem direito nesta sessão legislativa (ano parlamentar).
Citando uma “megasondagem da TSF” sobre se “faz ou não falta um grande plano de combate ao racismo em Portugal”, o deputado afirmou que “80% dos portugueses disseram que não”, ironizando que são “malandros racistas, espalhados por todo o país”.
“Que vergonha é continuarmos a acreditar em fantasmas que não existem e a atirar à cara dos portugueses apenas para os fazer acreditar que subsidiodependência, que marginalidade autoimposta pode ser uma solução para Portugal”, insistiu, considerando que “já não é, não vai ser”.
Na sua ótica, é necessário “colocar a luta onde ela tem que ser feita”, dando “voz aos portugueses comuns, aqueles que sentem que pagam impostos para sustentar esta República há anos demais, sem qualquer retorno, sempre para os mesmos”.
Sobre a comunidade cigana, Ventura disse que “há um problema de subsidiodependência” entre aquelas pessoas, que “há casamentos de menores que os tribunais não deviam permitir” e “há raparigas retiradas da escola sistematicamente há 45 anos”.
“Digam-me um distrito onde não existam problemas com a comunidade cigana”, acrescentou, considerando que esta frase pode ser “a mais racista dita aqui dentro alguma vez”.
Isto motivou uma interpelação do presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues: “Então é melhor não dizer, senhor deputado”.
O parlamentar criticou quem o considera racista por ter defendido “um plano específico [de confinamento] para a comunidade cigana”, apesar de nunca ter apresentado essa proposta no parlamento, e apontou que existem autarcas que defenderam o mesmo nos seus concelhos, mas nesse caso “já não há problema nenhum”.
“Este é o estigma que criámos em Portugal”, salientou, considerando que o chapéu de populismo e extremismo é usado para “tudo o que não agrada ao sistema instalado”.
Ventura aproveitou para criticar as “ofensa às forças de segurança” escritas em alguns cartazes nas manifestações antirracismo que se realizaram pelo país no sábado, bem como o presidente da SOS Racismo, por ter dito que “se vierem persegui-lo criminalmente é discriminação racial e social”.
Para a líder parlamentar do PAN, as palavras de Ventura são de “uma irresponsabilidade atroz”, um vez que “o racismo mata”.
“Não é por vir falar mais alto ou dizer que vem trazer a voz dos portugueses que passa a ter razão”, advertiu Inês Sousa Real, pedindo ao deputado que apresente “respostas sérias de combate ao racismo e de combate à intolerância” e criticando que “a única coisa que tem de oferecer são discursos fáceis”.
Também Catarina Marcelino (PS) fez referência ao tom de voz usado pelo deputado, “de gritos”, e acusou-o de ter um estilo “sobretudo radical” e um “discurso extremista”.
A socialista considerou “lamentável” que André Ventura use o parlamento para “propagar ódio” e criticou que o deputado do Chega ser “só contra as mortes de alguns”.
Na ótica da deputada do PS, Ventura “tem problemas com sistema democrático” e instou-o a concretizar o que “quer com a quarta República” que já defendeu.
Na réplica, o deputado do Chega não apresentou nenhuma medida e salientou que a quarta República que defende “não é um terceiro Reich [regime da Alemanha nazi], nem nada assim parecido”.
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