Pedro Neto falava hoje à agência Lusa no último dia de uma visita de uma semana a Cabo Verde, durante a qual realizou um périplo de direitos humanos que incluiu vários encontros com defensores dos direitos humanos, organizações, órgãos de comunicação social e instituições de ensino.
O diretor executivo da AI de Portugal sublinhou que encontrou “muitas semelhanças” entre Portugal e Cabo Verde, dois países que são “muitas vezes elogiados porque são comparados com outros bastante piores e aos quais a comunidade internacional não dá tanta importância ao nível dos direitos humanos”.
“Nem por isso deixam de existir questões muito graves e sérias em termos de diretos humanos”, acrescentou.
Pedro Neto referiu-se, por exemplo, à forma como são tratados os cabo-verdianos que emigram para outros países, assim como os cidadãos de outros países que vivem em Cabo Verde.
“Por vezes estes trabalhadores são alvo de exploração e discriminação”, disse, acrescentando: “Isto também acontece em Portugal”.
A violência de género foi igualmente abordada nestes encontros que Pedro Neto manteve em Cabo Verde, durante os quais identificou a vulnerabilidade das mulheres perante a violência doméstica.
A situação piora nos casos em que as mulheres, muitas vezes o pilar da família, são mães de crianças portadoras de deficiência.
“Os portadores de deficiência têm muitos poucos apoios. A vida não é fácil para estas mulheres, mães de filhos com deficiência”, disse.
O desafio no acesso à habitação e a pobreza como motivo de discriminação foram outros dos abusos em termos de direitos humanos que mereceram uma atenção do diretor executivo da AI de Portugal.
Outro tema abordado foi a liberdade de expressão, com Pedro Neto a identificar alguma “autocensura” da parte dos jornalistas, em parte motivada por trabalharem num mundo pequeno.
“É preciso que no debate público e nos direitos humanos sejamos diretos”, defendeu.
Pedro Neto sublinhou a “clarividência e objetividade” de algumas organizações cabo-verdianas, como o Provedor de Justiça, no tratamento das queixas que recebem sobre direitos humanos, referindo que “estas organizações trabalham muitas vezes sem rede”.
Sobre a difícil situação financeira em que algumas destas organizações se encontram, deixou um aviso: “Estrangular financeiramente as organizações é uma forma de limitar a sua atuação”.
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