Professor, presidente do Conselho Nacional do Ambiente e Desenvolvimento Sustentável e especialista em alterações climáticas, Filipe Duarte Santos disse à Agência Lusa que não é correto que se fale em ações para salvar o planeta, porque o que tem de ser salvo é a relação dos humanos com o planeta.

Os grandes incêndios no mundo “não são propriamente graves para o planeta, que continua cá, connosco ou sem nós. Estamos de facto a interferir muito com o ambiente e com o planeta, mas é mau para nós, não para o planeta”, que continuaria na mesma mesmo que a espécie humana desaparecesse porque “é muito mais poderoso”.

Filipe Duarte Santos diz-se preocupado com o agravamento das alterações climáticas potenciadas pelos atuais incêndios, mas ainda assim não entende que a espécie humana esteja em risco, apesar de advertir que “os jovens vão ter um mundo muito diferente do que nós tivemos” e em média vão passar “momentos difíceis”. Em Portugal, avisa, vai ser especialmente difícil.

José Miguel Cardoso Pereira, professor catedrático e especialista em florestas, tem opinião idêntica, a propósito dos grandes incêndios, da destruição da floresta e do aumento das emissões de gases com efeito de estufa.

“Infelizmente acho que as novas gerações vão ter uma vida pior”, disse à Lusa, acrescentando que também vão estar mais alerta para a necessidade de “fazer coisas”.

“O problema é maior, mas a consciência da sua existência também, e as pressões que vão ser feitas e as opções por estilos de vida vão ter respostas diferentes das que existiram nas últimas gerações. Se serão suficientes e a tempo não sei”, afirma.

Nos jovens há hoje uma consciência ambiental “muito maior” e as greves climáticas são um exemplo disso, diz o professor e especialista em climatologia Ricardo Trigo, que deixou um aviso a esses jovens: “Se não forem atuantes não vamos lá”.

Uma ideia não muito diferente da do docente universitário Carlos da Câmara, também climatologista e especialista em meteorologia.

Em declarações à Agência Lusa confessa que está preocupado com as alterações climáticas, que não esperava que fossem tão grandes, e admite que no início da década de 1990 até foi “um bocado cético” em relação a elas, sendo que hoje “não há como não acreditar”.

As alterações climáticas, não duvida, vão levar a mais extremos, que vão provocar mais mortes e mais sofrimento. Mas não é alarmismo nem Carlos da Câmara é alarmista, como fez questão de dizer à Lusa: “As alterações climáticas não vão ser o fim do mundo, mas vão torná-lo diferente e menos agradável”.

“Acredito que a espécie humana resiste. Mas não há ninguém realista que diga que não vamos ter impactos”, diz Carlos da Câmara, considerando que “reinar não é dominar” e que quando se abusa da natureza ela reage e o sistema climático “reage para encontrar um equilíbrio”.

Portanto, resume, não vai ser fácil o futuro. As alterações climáticas podem até ser a origem de uma “guerra séria no futuro”.

Mas há uma esperança nas palavras de Carlos da Câmara: “ainda acredito que a ciência possa ser resposta a isto tudo”.