De olhos postos em 2020, o CEO da Altice, Alexandre Fonseca, considerou esta terça-feira, 26 de novembro, que a tecnologia 5G será determinante no próximo ano. No entanto, ressalva, “resta-nos saber se será o ano do 5G perdido ou se será o ano do 5G ainda ganho, pelo menos na segunda metade”.
Em causa está o calendário de migração da faixa 700 MHz da TDT, essencial para o arranque do 5G (quinta geração móvel), proposto pela Anacom.
Falando em “atrasos quase irreparáveis”, que são “fruto da inação do regulador”, Alexandre Fonseca disse que “o caso da [migração da faixa] de TDT parece irremediavelmente atrasado”.
“Nós em setembro/outubro de 2018 alertámos que este seria um processo que demoraria cerca de oito meses até a migração estar completa e o regulador lançou o processo em outubro. Portando, isso significa que está irremediavelmente atrasado”, continua.
“É um processo que estará concluído no final do verão [de 2020] e portanto a frequência dos 700 MHz só estará disponível no terceiro ou no quarto mesmo do próximo ano”. Acresce a este atraso o facto não haver datas fechadas para o leilão de atribuição de frequências.
“A consulta que está neste momento a decorrer está ferida de um conjunto de situações que não são claras, que são omissas, e as respostas, eu antecipo, vão carecer de uma interação ainda maior”, diz o gestor da empresa de telecomunicações.
A previsão da Anacom é de que o leilão seja iniciado em abril do próximo ano e encerre em junho, estando os procedimentos concluídos em agosto.
Assim, quando olha para o próximo ano, Alexandre Fonseca acredita “que 2020 trará, na segunda metade do ano, pelo menos uma visão mais clara sobre o que será o 5G”. No entanto, adverte, “não tenho a certeza de que será o ano do lançamento comercial do 5G face a todos estes atrasos”.
No que concerne as consequências deste atraso, o CEO da Altice diz que neste momento Portugal compara com países que não são conhecidos por ter uma posição de liderança no que toca a tecnologia, quando na verdade está a competir com países do centro da Europa.
“Hoje, se olharmos para o panorama europeu, poucos países estão na mesma situação de Portugal no que toca ao 5G, e falo de países como o Chipre, a Bulgária, Malta, que, sem desprimor, não têm sido reconhecidos como líderes no que toca a tecnologia. [Pelo contrário] Portugal tem-no sido nos últimos anos. Portanto, neste dossier [Portugal] ficar na cauda da Europa é um tema para 2020 que me preocupa de sobremaneira. Hoje eu falo com presidentes de grande multinacionais na área da indústria que me dizem que têm dificuldade em conversar com os seus acionistas, que estes questionam porque é que hão de focar investimento em Portugal, num país em que o 5G não vai provavelmente contribuir em 2020 para uma automatização dos seus processos, quando outros países do centro da Europa já têm o 5G ativo. E Portugal hoje concorre com o centro da Europa. Estes são danos que acho de alguma forma irreparáveis temporalmente”, concretizou.
Questionado sobre as suas expectativas relativamente ao regulador, Alexandre Fonseca disse apenas que espera “sempre uma atitude responsável por parte do regulador. O que é que isso significa? Terão de o questionar”.
Apesar da perspetiva sombria, Alexandre Fonseca assumiu que é possível “tentar recuperar” o tempo perdido. “Parece-me que há sensibilidade do Estado para a importância deste dossier [do 5G], para a importância para a nossa economia e para o momento que atravessamos no setor das telecomunicações hoje”.
O CEO da Altice falou aos jornalistas à margem de um evento de apresentação da estratégia de responsabilidade social da empresa, quer externa, através da Fundação Altice, quer interna.
Através das iniciativas de responsabilidade social externa a Altice procura, segundo o seu CEO, garantir que "num país a duas velocidades", os portugueses têm igualdade de acesso às novas tecnologias — seja disponibilizando tablets em escolas, levando fibra ótica a zonas de baixa densidade populacional ou wi-fi a aldeias da Beira Interior, seja disponibilizando o acesso a conteúdos educativos da Khan Academy, entre outras iniciativas.
Internamente, Alexandre Fonseca confessa o desejo de "criar o conceito de família Altice", acrescentando às métricas estratégicas de desempenho da empresa "a da felicidade".
Entre os programas internos da Altice destaca-se o subsistema de saúde Altice Cuidados de Saúde (marca que substitui a PT ACS, que existe desde 1995, e tem cerca de 40 mil beneficiários), além de programas de estágios, bolsas e colónias de férias para filhos de colaboradores, passando por programas de teletrabalho e vouchers de reconhecimento mérito para funcionários, entre outras medidas. O CEO da Altice aproveitou para anunciar que este ano se irá recuperar o jantar de Natal para todos os funcionários, juntando cerca de oito mil pessoas na Altice Arena.
A Altice tem a responsabilidade social como "prioridade estratégica" da empresa, sustentada em três pilares: promoção da portugalidade, educação e voluntariado.
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