Durante a leitura da acusação, hoje no tribunal Criminal Central de Londres, o procurador Oliver Glasgow contou que Mendes, na altura com 25 anos, foi atacado pelos suspeitos homicidas na rua pouco depois de estes terem deixado escapar uma outra vítima.
"Ele não tinha qualquer noção do perigo que corria", afirmou Glasgow, ao descrever o sucedido.
Wilham Mendes, natural da Guiné-Bissau mas de nacionalidade portuguesa, trabalhava como ajudante de cozinha num restaurante em Convent Garden, no centro da capital britânica, do qual saiu pouco antes da meia-noite de 21 de dezembro, a caminho de Tottenham, no norte, onde vivia sozinho.
Pouco depois da uma da manhã foi identificado por imagens de videovigilância no bairro onde residia, carregando um saco do restaurante e uma mala pessoal, ao mesmo tempo que se vê outro jovem a fugir na rua, após ter sido roubado e perseguido pelo grupo.
Ao ser abordado, "Wilham Mendes parece ter tentado fugir", mas foi rodeado pelos quatro adolescentes, um dos quais o procurador sugeriu que tenha ligado um telemóvel para filmar o ataque devido ao objeto luminoso que se identifica na mão.
Seguiu-se uma luta e uma fuga por ruas interiores, onde o português, um praticante de pugilismo amador, "foi violentamente esfaqueado e deixado a morrer", afirmou o procurador Oliver Glasgow.
Imagens de videovigilância mostram os quatro adolescentes a abandonar o local "calmamente", um deles a limpar e a esconder uma "faca enorme" nas calças e outro segurando a mala roubada a Wilham Mendes.
Posteriormente, nas imagens apresentadas como prova hoje em tribunal veem-se dois dos adolescentes a comemorar o sucesso do ataque com um toque de punhos fechados, o que o procurador descreveu como "um gesto chocante de celebração".
A acusação referiu um "trilho de sangue" deixado no chão e contou que o primeiro agente de polícia que prestou assistência identificou um golpe profundo no abdómen, que a autópsia determinou ter perfurado 10,5 centímetros e atingido os intestinos e a veia cava inferior.
Wilham Mendes morreu a caminho do hospital na sequência de uma paragem cardiorrespiratória, tendo sido declarado morto pouco depois das 02:00 horas de 22 de dezembro.
Os menores, com idades entre os 15 e 17 anos e cujas identidades não podem ser divulgadas, foram acusados de sete crimes, incluindo um de roubo, dois de tentativa de roubo, um de homicídio e três de posse de arma proibida.
Apesar de se ter declarado inocente das várias acusações de roubo naquela noite, um dos adolescentes admitiu que esfaqueou Wilham Mendes, alegando auto-defesa.
Outro dos adolescentes admitiu envolvimento no roubo, mas declarou-se inocente do homicídio, e os restantes dois acusados negaram ter participado no roubo e no ataque.
Porém, a procuradoria britânica considera que os quatro "atuaram como uma equipa" e que pelo menos três deles estavam armados com facas, mesmo que seja incerto quem infligiu o golpe mortal ou se todos participaram ativamente no ataque.
"O que interessa é que eles agiram juntos, cada um desempenhando a sua parte, seja ela como um atacante físico ou encorajando e ajudando os amigos a atacar Wilham, e todos pretendiam ferir Wilham gravemente", argumentou o procurador Oliver Glasgow.
O julgamento está previsto continuar durante cerca de seis semanas e a decisão será deliberada por um júri.
Wilham Mendes foi um entre milhares de vítimas de um crescente número de crimes com armas brancas no Reino Unido, cujo número de homicídios ascendeu a 132 em Londres no ano passado, muitos dos quais jovens envolvidos com gangues.
De acordo com o instituto de estatísticas britânico, a polícia britânica registou 40.829 crimes onde foram usadas facas ou objetos cortantes em 2018, dos quais 36% (14.660) em Londres.
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