A morte de um Rei e a queda de um superministro

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A morte de um Rei e a queda de um superministro
Pelé num amigável contra a Suécia, a 8 de maio de 1960 AFP PHOTO FILES/-/br/lc/ao

A madrugada ainda era uma criança quando se soube que o ministro das Infraestruturas e da Habitação estava de saída do governo, na sequência da mais recente polémica da TAP. Pedro Nuno Santos, "face à perceção pública e ao sentimento coletivo", decidiu que estava na altura de deixar o Executivo e o primeiro-ministro, António Costa, foi lesto a aceitar a demissão.

A polémica que fez cair o "superministro" começou no passado sábado, quando o Correio da Manhã noticiou que Alexandra Reis, que em junho foi nomeada pelo Governo para a presidência da Navegação Aérea de Portugal (NAV) e no final do ano escolhida para secretária de Estado do Tesouro, recebeu uma indemnização de meio milhão de euros por sair antecipadamente, em fevereiro, do cargo de administradora executiva da transportadora aérea, quando ainda tinha de cumprir funções durante dois anos.

Costa não sabia de nada, Medina aparentemente também não, e a secretária de Estado do Tesouro demitiu-se 25 dias depois de tomar posse — mas alguém tinha obrigação de saber. Caiu Pedro Nuno Santos e o Secretário de Estado das Infraestruturas Hugo Santos Mendes.

Sucederam-se as reações, com a oposição a questionar se o Governo de António Costa tem condições para continuar e exigindo uma "explicação cabal" para a "epidemia de crises políticas" deste Executivo. A Iniciativa Liberal anunciou mesmo que vai apresentar uma moção de censura. Já ao final do dia, o PS dava o caso Alexandra Reis/TAP como "completamente encerrado" com a saída de Pedro Nuno Santos, ainda que subsistam perguntas por responder.

Já ao final da tarde, porém, uma das notícias que todos temiam no final deste ano: Edson Arantes do Nascimento, mais conhecido como Pelé, morreu hoje. A lenda maior do futebol brasileiro tinha 82 anos e estava a lutar contra um cancro.

Para muitos o melhor futebolista de sempre, Pelé marcou uma era do futebol e colocou o Brasil nos pícaros do desporto sobre o qual reinou. Com quase tantos golos como jogos na carreira, o avançado brasileiro ajudou a fazer do Santos uma potência doméstica e internacional. O que o distanciou dos demais? O facto de, em campo, "se sentir rei, da cabeça aos pés". As palavras são de Victor Abussafi, num perfil intitulado "Pelé, o rei do futebol que já o era antes de o ser", cuja leitura recomendo vivamente.

Na despedida recorda-se "um símbolo do Brasil", que "marcou gerações e será para sempre recordado como um dos maiores", uma "lenda", e tiraram-se do baú as fotos, muitas fotos, ao lado de Eusébio, Ronaldo, Messi, Futre, Mourinho, Lula, Obama...

Pelé, nascido a 23 de outubro de 1940 na cidade Três Corações, em Minas Gerais, foi o único futebolista três vezes campeão do mundo, em 1958, 1962 e 1970, marcou 77 golos nas 92 internacionalizações pela seleção brasileira e jogou pelo clube brasileiro Santos e pelo Cosmos, dos Estados Unidos.

Foi ainda ministro do Desporto no governo de Fernando Henrique Cardoso, entre 1995 e 1998 e eleito o desportista do século pelo Comité Olímpico internacional (1999) e futebolista do século pela FIFA (2000).

O Brasil faz o luto pelo "rei" numa altura crítica, quando se prepara para a tomada de posse de Lula da Silva, após uma eleições que dividiram o país (aliás, o funeral de Pelé, marcado para 2 de janeiro, acontece apenas um dia após o regresso oficial de Lula ao poder). E 2022 ainda nem sequer terminou.

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