O disco, com edição internacional, chega agora ao mercado.
A ópera, com libreto de Carlo Goldoni (1707-1793), foi dirigida por Marcos Magalhães, fundador, em conjunto com Marta Araújo, da orquestra de época Os Músicos do Tejo, e interpretada por um elenco de cantores líricos portugueses, composto por Fernando Guimarães, Luís Rodrigues, João Fernandes, Carla Simões, João Pedro Cabral, Carla Caramujo e Susana Gaspar.
Os Músicos do Tejo apresentaram esta ópera numa versão ‘semi-encenada’, em 2017, no Teatro Thalia, em Lisboa, depois de a terem levado, em versão de concerto, ao festival Cistermúsica, em Alcobaça, em 2014.
Este agrupamento tem vindo, aliás, a resgatar, num processo historicamente informado, óperas do barroco português, para disco e para palco, como “La Spinalba”, de Francisco António de Almeida, em 2011, e “Il Trionfo d’Amore”, também de Almeida, em 2013.
Nos últimos 15 anos, Os Músicos do Tejo editaram seis CD, entre os quais “From Baroque to Fado” (2018).
A trama de “Il Mondo della Luna” assenta em amores contrariados e não correspondidos, como o de Ecclitico, um falso astrónomo, por Clarice, e o do seu amigo Ernesto por Flaminia, ambas filhas do velho crédulo Buona Fede (“Boa Fé”), que quer casar as filhas com fidalgos.
De conluio com Ernesto e Cecco, Ecclitico concebe uma artimanha e ilude Buona Fede a viajarem até à Lua. É neste suposto “mundo da Lua” que montam uma mentira, com o objetivo de desposarem as namoradas. Buona Fede ao descobrir o logro, porém, enfurece-se, mas acaba por aceitar os matrimónios. Afinal, como escrevem Os Músicos do Tejo, “são todos irremediavelmente lunáticos”.
Goldoni é autor de 80 libretos, na sua maioria cómicos. Nos anos de 1730, em Veneza, escrevia “intermezzi”, e, a partir de 1741, foi ‘poeta-diretor’ do Teatro S. Giovanni Crisostomo, naquela cidade italiana.
Contratado pela corte de Parma para escrever libretos, em 1756, a partir de então o êxito “é tão grande que lhe é atribuído o título de poeta de corte”, escreve, nas notas que acompanham o álbum, o maestro e professor Jorge Matta Silva Santos, que defendeu uma tese sobre esta ópera de Avondano, na Universidade Nova de Lisboa.
Em 1762, Goldoni partiu para Paris, como autor da Comédie Italienne, e tornou-se tutor da princesa Adelaide, filha de Luis XV.
Apesar do sucesso, na capital francesa morreu, pobre, em fevereiro de 1793.
Goldoni marcou a diferença, segundo o investigador. Para Matta, “até Goldoni, os libretos de ópera cómica são ainda histórias complicadas e estereotipadas, com personagens inverosímeis, disfarces e coincidências”. Depois, ganham densidade.
Segundo o investigador, o rei José de Portugal “contactou (e pressionou) Goldoni, por várias vezes, para este fazer obras para a corte portuguesa”.
Pedro António Avondano, “um compositor de eleição”, segundo OS Músicos do Tejo, viveu em Lisboa entre 1714 e 1782. De origem genovesa, foi primeiro violino da Orquestra da Real Câmara, ainda no reinado de João V, e foi também violinista da Real Câmara, entre 1754 e 1782. O seu ofício incluía a composição de música para os bailados que acompanhavam as óperas.
Segundo Os Músicos do Tejo, Pedro António Avondano “tornou-se o mais importante compositor de música instrumental em Portugal, na segunda metade do século XVIII, sendo autor de referência de música para tecla, música de câmara, sobretudo minuetos, e música orquestral”.
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