As pinturas vão associar-se à música e aos petiscos portugueses e espalhar-se pelas ruas de Paris, de 22 de setembro a 1 de outubro, enquadradas no festival "La Rue" do Fórum dos Institutos Culturais Estrangeiros em Paris (FICEP), sendo o Centro Cultural Camões responsável pela programação portuguesa.
"É um mistério. É fazer uma coisa sem ter ideia da repercussão que vai ter. É interessante, é um desafio imenso. Por um lado, sei que as peças vão ter toda a qualidade que se pode exigir a uma intervenção, que tem um ar informal, de urgência - que é o pintar na rua - [e] de manifesto, que é apresentar a imagem cultural de um país noutro país", começou por considerar à Lusa João Pinharanda, diretor do Centro Cultural Camões em Paris.
Por outro lado, para o mentor da programação portuguesa - que tem como eixo principal os retratos que vão ser colados nas paredes - a iniciativa reveste-se de mais mistério, porque "estas personagens que vão aparecer nalgumas zonas específicas nas ruas de Paris são umas personagens misteriosas" para o comum dos franceses.
Entre retratos individuais e coletivos, a dupla "Borderlovers", dos artistas Pedro Amaral e Ivo Bassanti, já preparou "perto de uma centena de cartazes" que vão colar em bairros como o Marais, Montmartre, Montparnasse e Quartier Latin, numa "performance" que vai ser filmada e fotografada. Nem todos os trabalhos vão para as paredes, muitos vão servir simplesmente para divulgar o evento em pastelarias e mercearias finas portuguesas.
"[Eles] vão fazer imagens que têm um caráter de 'street art', embora sejam num suporte autónomo, ou seja, são desenhos em papel, são colagens - como se fossem posters gigantes ou mais pequenos, mas com tendência para serem grandes - de personalidades portuguesas que viveram em Paris, desde o século XIX ao século XX, do António Nobre a Eduardo Prado Coelho", contou Pinharanda, também conselheiro cultural da Embaixada de Paris.
Os transeuntes vão, ainda, dar de caras com os rostos pintados de Sérgio Godinho, Mário de Sá Carneiro, Júlio Pomar, José-Augusto França, entre muitas outras personalidades portuguesas, e os trabalhos deverão ficar no local onde foram colados.
"Vão ficar na rua - as que tiverem que ficar - e vão ter a vida que as obras de rua têm", continuou João Pinharanda, admitindo a possibilidade de serem rasgadas e até roubadas ou, simplesmente, "intervencionadas por cima".
Além das imagens dos Borderlovers e dos petiscos portugueses nas lojas 'gourmet', a programação conta com músicos que vão atuar em locais inabituais.
Lúcio Martins Faria, um português que há mais de 20 anos canta fado com notas de saxofone no metro de Paris, vai ter como palco uma carruagem do metropolitano.
Em certas ruas da capital francesa, vai ouvir-se cante alentejano com sotaques internacionais, interpretado pelo Rancho de Cantadores de Paris, um grupo ensaiado pelo português Carlos Balbino, composto por parisienses de várias nacionalidades.
Dentro da igreja escocesa Scots Kirk, vai haver ainda, a 30 de setembro, às 20:00 locais, um concerto de piano a quatro mãos da formação "20 Fingers", um duo composto por João Vasco e Eduardo Jordão, com um repertório que vai da sonata clássica ao 'ragtime', do tango ao chorinho, "de Bach a Chico Buarque".
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