Couve bok choy, açaí, clorela, sementes de chia, camu-camu, matcha… são alguns dos nomes com que nos cruzamos ao folhear o livro de Mafalda, a par de coisas mais comuns como brócolos, beterraba ou cacau. São “superalimentos”, ou seja, alimentos “com uma concentração de nutrientes superior e que beneficiam a saúde”, explica a nutricionista de 27 anos. Alguns deles parecem difíceis de encontrar, replicamos. Mafalda responde com um sorriso na voz: “eu vou a um supermercado normal, a mercados biológicos e quando procuro produtos mais específicos vou a lojas de especialidade. Já se encontram muitos destes produtos no supermercado. As grandes superfícies têm atualizado a oferta neste sentido porque percebem que é uma tendência, um mercado em ascensão”, responde.

No livro que acaba de chegar às bancas, Mafalda Almeida não só lista estes superalimentos como tem uma “ficha de saúde” para cada um, onde estão explicadas as suas propriedades. E porque não basta saber, é preciso comer para beneficiar dos mesmos, a maior parte da obra é composta por receitas para todas as refeições. “Adoro cozinhar, e por vezes até é um problema porque quero fazê-lo mas não tenho tempo”, diz a autora, que se meteu nesta aventura a convite da editora.

“Eles [editora] perceberam que os superalimentos são tema emergente. Eu tinha um leque grande de receitas prontas ou passíveis de serem adaptadas e sempre acreditei neste conceito”, conta Mafalda, acrescentando que a sua exigência era que o livro tivesse uma base científica. “Eu tinha vinte páginas de referencias bibliográficas e tive de as transformar em quatro páginas. Ainda há pessoas muito céticas. Os superalimentos têm benefícios estudados”, salienta. Por outro lado, reconhece, “há também pessoas que abusam. Não posso comer croissants todos os dias e depois beber chá verde e achar que não vou engordar”, exemplifica. O livro, garante, visa desmistificar todas estas coisas. “Toda a gente diz que somos o que comemos, mas poucos entendem verdadeiramente o que isso significa”, e é isso que Mafalda quer mudar.

Mas, fazendo contas, ter uma alimentação saudável é caro nos dias que correm, não acha? A pergunta vai ao desafio e Mafalda não se retrai. Gastar hoje para poupar amanhã e viver melhor, defende. “Acho é que investimos pouco na nossa alimentação quando fazemos a distribuição do orçamento mensal. Nós investimos cerca de 11% do orçamento em alimentação quando, pelas recomendações da Organização Mundial de Saúde, deveríamos investir 20 a 30%. Investir agora para evitar gastos maiores mais tarde, sobretudo ao nível da saúde. Eu tento apostar em produtos de qualidade e não acho que seja um mau investimento. Prefiro muitas vezes comer em casa do que ir comer fora e menos saudável”, exemplifica.

E o facto é que, a seu ver, “ainda não existe muita oferta" ao nível da restauração. “Se vou a um restaurante os acompanhamentos são por norma arroz e batata. Se peço uma salada como acompanhamento é daquelas simples e depressa se fica com fome. Os restaurantes ganhavam muito em atualizar os seus menus com saladas mais variadas e saciantes - com quinoa, arroz integral ou couve roxa. Era bom ter também acompanhamentos diferentes, como abóbora assada ou legumes, e que não fossem à parte mas integrassem o prato.”

E esta e uma questão que diz bastante a Mafalda, que trabalha há cerca de um ano e meio na Nutrialma, uma consultora que ajuda refeitórios de empresas e de colégios a diversificar e melhorar a oferta de menu. “Estamos todos fartos de comer sempre costeletas grelhadas”, brinca a nutricionista, que já trabalhou com 20 projetos diferentes. “As empresas procuram cada vez mais estes serviços. Trabalhadores que comem melhor são mais produtivos”, diz. “No início há uma certa resistência [das cozinhas], mas depois as equipas começam a entusiasmar-se ao ver a saída que os pratos têm. Assim que começam a ver resultados palpáveis, a motivação [para mudar] aumenta”.

Um dos desafios que teve foi trabalhar com um público mais jovem, em dois colégios. “Por vezes os miúdos não sabem distinguir um pepino de uma curgete. No caso das crianças é preciso mudar hábitos de forma criativa. Se eu lhes der palitos de cenoura para comer claro que ninguém quer, mas se fizer sanduíches de maçã com manteiga de amendoim já é um sucesso”, conta. “O segredo, no caso das crianças, é também em casa mudar a alimentação. Para muitas famílias, por exemplo, o jantar é uma sopa de pois logo se vê. E o logo se vê traduz-se em tostas com manteiga, quando se fizéssemos uma carne grelhada com legumes seria mais saudável e saciante. O maior erro alimentar das famílias portuguesas hoje é desvalorizar o jantar. A maioria das pessoas deita-se tarde, comendo só uma sopa ao jantar chega-se à cama cheio de fome”, diz.

E em sua casa, sempre se comeu bem? "Sei que em minha casa, quando era pequena, não se comia 100% saudável, mas a minha mãe preocupava-se em manter um certo equilíbrio. Lembro-me quando era pequena de pôr a gravar os programas da Martha Stewart e da Oprah Winfrey onde se falava sobre ter uma alimentação saudável. Eu aos 10 anos já tinha uma opinião muito forte sobre o que devia ou não comer”, diz. Hoje, além de se preocupar em ter “uma alimentação funcional”, Mafalda vai cinco vezes por semana ao ginásio.

E perdições alimentares, tem? “Sim, nutella e manteiga de amendoim”, reconhece. Mas é possível fazer um género de nutella em casa, replicamos. A resposta é rápida: “não sabe igual”, diz, sorrindo. Mas os doces não são por si a maior tentação. “Num jantar com amigos tenho mais tendência a perder-me pelas entradas. Não deixo de comer, depois compenso e como um pouco menos no prato principal”, conta.

A conversa vai gulosa, pelo que é imperativo questionar como é que se alia uma alimentação saudável ao conceito de sobremesa. “É possível comer sobremesas saudáveis. Depende muito do que consideramos ser saudável. Por exemplo, se comer um brownie de chocolate com nozes e tâmaras ele será muito calórico porque os frutos secos têm muitas calorias, mas ficarei saciada por mais tempo. Pelo contrário, se comer um brownie cheio de farinha e manteiga terei menos calorias, mas ficarei menos saciada e, provavelmente, terei efeitos secundários como a tradicional barriga inchada”, exemplifica. “Para mim é mais importante a noção de equilibro do que de calorias. As pessoas precisam de perceber exatamente o que estão a comer. Tento comprar o mínimo de coisas empacotadas. Temos de ser mais naturais, mais saudáveis e saber qual é a nossa prioridade: emagrecer ou ser saudável? Não imponho nada, mas se o objetivo é ter resultados mais rápidos, a prazo pode não ser a melhor opção”.

Entre o trabalho de consultoria, a preparação do livro, workshops e ginásio, perguntamos a Mafalda se tem tido tempo para alimentar o seu projeto online loveat.pt, onde partilha também receitas, responde a dúvidas dos leitores e deixa algumas dicas. “As pessoas cobram-me tanto que tenho de ter tempo. No final do ano passado viajei com umas amigas para a Tailândia, Camboja e Vietname. Foram três semanas de mochila às costas com três amigas. Aí ensinei a minha mãe a partilhar links no Facebook”, conta. A viagem foi boa? Perguntamos. “Ficava lá dois ou três meses. Primeiro estranha-se depois entranha-se. A cultura é muito diferente. Os sítios onde comi melhor foram no Camboja e no Vietname… nunca pensei que seria possível cortar um hambúrguer com palitos”, graceja.

De volta ao livro, Mafalda deixa o convite para uma apresentação no próximo dia 28 de março, pelas 19h00, no El Corte Inglés, em Lisboa. Antes de se despedir, partilha um dos percalços curiosos que teve durante a preparação do mesmo. “Quando ia a caminho da quinta onde estava a fazer as receitas e a fotografar, fui parada numa operação stop na marginal. Eu tinha o carro cheio de comida e loiça. O guarda pediu-me para mostrar o colete e triângulo. Tive de pedir desculpa, mas era impossível. Ia encher a marginal de comida. Convidei-o a vir até à quinta e lá já lhe conseguia mostrar as coisas. Ele foi muito simpático e disse-me: ‘quando lançar o livro avise a polícia, mande uma mensagem’”. Feito, senhor guarda. O livro já está nas bancas.