"O objetivo é mudar tudo, ou quase tudo, porque 'Guernica' não é tocado", disse Borja-Villel, que dirige o museu há uma década, citado pela agência de notícias espanhola Efe.
Passaram dez anos desde a anterior mudança, aquela que empreendeu quando assumiu a direção do museu.
"Tantas coisas têm acontecido desde então que parece que 'a idade da pedra' foi deixada para trás", disse, adiantando que chegou o momento de compor "uma nova história" para o Museu Rainha Sofia, cuja exposição atual termina nos anos oitenta.
Dentro de alguns meses a nova mostra deverá incluir tópicos como a arquitetura, um olhar sobre a América Latina, ecofemenismo, exílio - com o qual, afirmou, a Espanha "tem uma dívida pendente" -, a era do Trump e, claro, a pandemia.
A parte dedicada ao exílio é aquela em que mais será explorada.
"É um assunto inacabado para este país. Há os espanhóis que foram forçados a ir para França ou para a URSS com a Guerra Civil, mas também os exilados latino-americanos que décadas mais tarde vieram para cá, e depois há todas as migrações no mundo nos últimos anos", apontou.
Muitos autores sairão, novos entrarão, muitas serão mulheres, tais como Louise Bourgeois, Las Sinsombrero ou Angela Meritopoulos, que terá uma instalação sobre migrações
"Não vamos conseguir colocá-los a todos", pede desculpa antecipadamente.
Quase todas as novas peças virão da coleção do museu e de doações que a galeria tem recebido nos últimos anos.
"Os fundos são limitados, há certas obras a que não conseguimos aceder, por isso temos estado interessados em outras menos óbvias, mas muito importantes", adiantou.
Entre todos, destaca-se uma peça de Diego Rivera, uma pequena gravura, "mas essencial" para o novo percurso do museu.
Chama-se "Vasos Comunicantes", foi desenhada em homenagem a Breton e nela se mostra a sua reação à ordem artística estabelecida.
A mudança já começou em algumas salas e as alterações irão afetar progressivamente seis andares.
A renovação total das 22 salas deverá estar concluída em novembro "se a pandemia o permitir".
"Há seis andares. Pode acontecer que algumas das salas que estão a ser apresentadas agora sejam novamente alteradas", advertiu.
Haverá muitos outros marcos no percurso para além dos mencionados: os 15M, Expo 92, Documenta '82, ecologia ou colonialismo.
"Sempre fomos acusados de ser um museu demasiado discursivo", mas muitos dos temas abordados no seu discurso ganharam uma força brutal nos últimos anos", afirma o diretor.
O museu ganhou peso internacionalmente e Manuel Borja-Villel entrou em 2018 para a lista das personalidades mais influentes do mundo da arte (no número 51) pela sua proposta "radical" para o centro de arte de Madrid.
O seu objetivo para a nova transformação, que certamente será também considerado radical, é claro e conciso: "Que o museu sirva para compreender um pouco melhor o mundo louco em que tivemos de viver (...) Dará à coleção um papel de liderança, uma forma de se compreender a si própria e um maior sentido na era atual".
Manuel Borja-Villel vinha trabalhando na mudança da coleção desde antes da pandemia de covid-19, e embora não tenha alterado a linha do que estava a pensar fazer, a crise da saúde deu-lhe mais "perspetiva" e deu força a uma série de temas em que já tinha estado a trabalhar.
A dois anos de terminar o terceiro mandato, o diretor do Rainha Sofia assinalou que teve "alguns momentos 'complicados'", durante uma década à frente do museu, referindo-se à queixa de uma associação cristã sobre a exibição de uma caixa de jogos com a inscrição "A única igreja que se ilumina é a que arde".
"Este museu tem uma identidade muito forte, mas é também um museu muito amado, isso é difícil de conseguir", afirmou.
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