“Entendemos que nesta altura em que estamos todos de rostos cobertos, nesta altura de pandemia, era o momento de olharmos e enfrentarmos os rostos que construíram uma história já centenária”, afirmou à agência Lusa o comissário da exposição, Marco Daniel Duarte.
Marco Daniel Duarte referiu que alguns desses rostos são conhecidos, como os papas.
“Mas vamos descobrir também os peregrinos anónimos, aqueles que deixam aqui o seu retrato, os ex-votos fotográficos que vão pontuar toda a exposição, e que, na verdade, vão levar a que olhemos para o peregrino como um protagonista deste lugar”, adiantou.
A exposição abre com os “protagonistas da primeira hora” de Fátima, os videntes Francisco, Jacinta e Lúcia, seguindo-se os rostos que levaram a história e a mensagem de Fátima para outras geografias.
Neste núcleo figuram, por exemplo, o jornalista de O Século Avelino de Almeida, que, em outubro de 1917, escreveu “Como o Sol bailou em Fátima”, Maria Teresa Pereira da Cunha e Maria Teresa Vilas Boas, impulsionadoras das viagens da Imagem Peregrina, as primeiras das quais estão iluminadas num mapa de grande dimensão, ou o papa João Paulo II, que peregrinou ao santuário por três vezes.
“Há um antes e um depois de Fátima” com João Paulo II, salientou Marco Daniel Duarte.
Noutro espaço, o visitante é convidado a conhecer os rostos dos bispos da diocese e reitores do santuário que administraram o espaço e prepararam-no para receber multidões, seguindo-se os rostos de críticos e opositores a Fátima, como Tomaz da Fonseca ou João Ilharco.
“São autores que se empenharam a destruir a imagem de Fátima e como Fátima podia ser desmontada”, explicou Marco Daniel Duarte, também diretor do Departamento de Estudos e do Museu do Santuário de Fátima.
Na senda da destruição de Fátima, surge a imagem da Capelinha das Aparições dinamitada, em março de 1922, antecedida de um fragmento da porta à época.
Rostos de investigadores e estudiosos do fenómeno de Fátima, como o cónego Manuel Nunes Formigão ou o cardeal Joseph Ratzinger, atual papa emérito Bento XVI, surgem no núcleo seguinte, que antecede o espaço dedicado aos poetas, literatos e artistas, surgindo o nome de 118 artistas com trabalho em Fátima, da arquitetura à escultura, da pintura à ourivesaria ou design.
“A arte em Fátima é também um rosto”, assinalou Marco Daniel Duarte.
A completar a primeira parte da exposição estão rostos de peregrinos, em oito telas grandes, “a ‘olhar’ para objetos que “os peregrinos mais sonantes”, os papas Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e Francisco, ofereceram a Fátima.
Marco Daniel Duarte acrescentou que a segunda parte da exposição, “muito mais contemplativa”, procura “mostrar os rostos de Fátima ao nível espiritual, desde logo a partir de qual é o Deus que é apresentado em Fátima”, e do “Anjo, que aparece como aquele que vem advertir para quando a humanidade se desvia do caminho que a leva a ser humanidade”, e olhar para o que é o rosto dos peregrinos em Fátima.
“É, na verdade, uma reflexão sobre o que é a condição humana, como nascemos, como caminhamos, do que é que nos alimentamos, como é que cuidamos uns dos outros na fragilidade, na doença, como é que enfrentamos a nossa morte”, exemplificou.
Por fim, o rosto de Maria em Fátima, em forma de coração, destacando-se nesta parte a coroa de Nossa Senhora de Fátima, na qual está incrustada a bala que atingiu João Paulo II, em 13 de maio de 1981, em Roma.
“E tudo isto depois é cerzido a partir de uma linha condutora que vai juntar todos estes fios, todos estes rostos, e que no final de tudo nos vai encaminhar para uma grande legenda”, feita com palavras da última encíclica do Papa Francisco, acrescentou o comissário.
“Passada a crise sanitária, (…) oxalá não seja inútil tanto sofrimento, mas tenhamos dado um salto para uma nova forma de viver e descubramos, enfim, que precisamos e somos devedores uns dos outros, para que a humanidade renasça com todos os rostos, todas as mãos e todas as vozes, livres das fronteiras que criamos”, lê-se no excerto da encíclica “Fratelli Tutti”, no termo da exposição.
A mostra “Os Rostos de Fátima: fisionomias de uma paisagem espiritual” vai estar patente ao público diariamente até 15 de outubro de 2022, das 09:00 às 18:00, no Convivium de Santo Agostinho, na Basílica da Santíssima Trindade.
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