
“1.ª Edição – Uma Autobibliografia” é o título da exposição que vai estar patente entre 21 de março e 21 de maio, “um evento único que apresenta a obra completa do poeta, incluindo as primeiras edições de todos os seus títulos, muitos dos quais raras impressões independentes e de autor, com tiragens muito reduzidas”, anunciou hoje a Buchholz, em comunicado.
Esta exposição “constitui uma oportunidade rara de contacto com a totalidade da sua obra e com o processo que moldou a trajetória singular do poeta”, acrescenta.
A inauguração, marcada para as 18:30 de sexta-feira, contará com um concerto-homenagem da banda de jazz SUMA.
Ao todo, a mostra reunirá 60 títulos editados entre 1958 e 2018, com destaque para um exemplar da primeira e única edição da estreia em nome próprio, “O Amor em Visita”, assinado e emendado à mão pelo próprio autor.
“Destes folhetos/plaquetes de 16 páginas em papel costaneiro foram feitos apenas 500 exemplares, numa edição clandestina de Luiz Pacheco, criador da Contraponto”, sublinha a livraria.
A exposição apresentará também as edições independentes de “Poemacto” (Contraponto) e “Flash” (edição de autor), assim como a primeira edição de “Apresentação do Rosto”, livro proibido e mandado confiscar pela PIDE, que o próprio autor renegaria, acabando por pedir a amigos que destruíssem os exemplares que encontravam.
Nesta mostra, também estará exposto o relatório da comissão de censura.
“1.ª Edição – Uma Autobibliografia” incluirá ainda a edição original de “O Corpo o Luxo a Obra” (&etc) e a edição-pirata da Contraponto, bem como o histórico “Cobra”.
O conjunto inclui ainda edições com dedicatórias do próprio Herberto Helder e as 11 edições de “Os Passos em Volta” lançadas em vida do autor.
“Herberto Helder foi um autor reclusivo, que recusou entrevistas, eventos institucionais e a reedição de textos, mantendo a sua obra num estado de constante flutuação e sucessivas metamorfoses, a que chamou ‘poema contínuo’”, refere a Buchholz, assinalando que este conjunto permite uma visão global, não só da obra de Herberto Helder, mas daquilo a que poderá chamar-se uma “autobibliografia”.
Este acervo que vai ser exposto pela primeira vez resulta de “uma busca obsessiva, conduzida ao longo de quase 15 anos por um colecionador (que deseja permanecer anónimo), em múltiplos alfarrabistas”, chegando mesmo a ter “uma renda” na alfarrabista Gabriela Gouveia.
Num texto explicativo, citado no comunicado da Buchholz, o colecionador conta que “com os anos 2000, a geografia abriu-se e a Internet deu uma ajuda”.
A busca terá começado com a segunda edição de “Os Passos em Volta” e com um texto do escritor José Luís Peixoto sobre “Apresentação do Rosto”, o livro censurado pela PIDE, “um encontro ocasional” que, finda a busca, lhe permitiu “vislumbrar o mundo a seguir”, acrescenta.
Aos livros, junta-se correspondência do autor com o ensaísta Eduardo Lourenço e com a poeta Sophia de Mello Breyner Andresen, um exemplar da revista "Poesia Experimental: 2.º caderno antológico", com raros poemas visuais, entre outros.
Nascido em 23 de novembro de 1930, no Funchal, Herberto Helder passou pelos movimentos surrealista e experimentalista, acabando por se distinguir como poeta único, sem escola, e pela busca obsessiva do poema absoluto, universal.
A consistência, intensidade e vigor da sua poesia, em torno de temas como os da mãe, da amante, do corpo e a natureza, com as presenças constantes do inconsciente e da metafísica, num confronto permanente entre a noite e o dia, a vida e a morte, fazem com que a sua obra seja considerada por muitos a mais importante da segunda metade do século XX português.
Em 1994 foi-lhe atribuído o Prémio Pessoa, que recusou.
Herberto Helder morreu em Cascais, em 23 de março de 2015.
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