“A Agustina Bessa-Luís fez parte dos nomes [a escolher], privilegiando as mulheres sobre os homens, (porque Paris já tem essa tradição com muitos nomes masculinos). Quando se pensou no quadro da temporada França-Portugal, surgiu pela primeira vez a ideia de que um estabelecimento como uma biblioteca pudesse ter o nome de uma autora portuguesa”, disse à Lusa o vereador na câmara de Paris Hermano Sanches Ruivo.

O nome de Agustina Bessa-Luís surgiu “muito naturalmente”, sendo a escolha da presidente da Câmara de Paris, Anne Hidalgo, entre os nomes de vários portugueses, após deliberação do Conselho de Paris tomada em fevereiro deste ano, numa decisão em consenso total, revelou.

“É uma decisão também um tanto política, mas que presta homenagem a uma cidadã do mundo que também tem uma ligação com Paris”, disse o vereador, acrescentando que Anne Hidalgo “tem tido o cuidado, a ligação, a cumplicidade nesse reconhecimento da parte portuguesa”.

Agustina Bessa-Luís foi uma importante escritora da literatura portuguesa contemporânea, nascida em 1922, tendo escrito dezenas de romances, como “A Sibila”, biografias, ensaios, contos e peças de teatro e foi membro da Academia Europeia das Ciências, das Artes e das Letras em Paris. Faleceu em 2019 aos 96 anos no Porto.

“A decisão foi tomada no início do ano e a proposta demorou menos do ano a ser estudada, depois foi preciso verificar uma série de coisas, inclusive as ligações com a família e a autorização”, referiu o vereador português.

Após a decisão, “era importante, sobretudo, encontrar um espaço que correspondesse ao que nós temos como visão sobre o mundo em Paris”, afirmou Hermano Sanches Ruivo, explicando a escolha da biblioteca de Courcelles, anteriormente assim designada segundo a avenida mais próxima, no 8.º bairro de Paris, perto da Rue de Lisbonne e do Consulado português.

A mudança de nome de estabelecimentos ou ruas em Paris para nomes de personalidades que contribuíram de alguma forma para a cidade é algo comum na capital rica em diversidade multicultural.

Hermano Sanches Ruivo apelou assim aos eleitos franceses de origem portuguesa para “sensibilizarem os executivos camarários franceses a também terem justamente um pouco mais de presença do que é português e lusófono”, referindo que se Paris tem uma biblioteca Agustina Bessa-Luís, todas as cidades francesas podem ter uma biblioteca que homenageie escritores portugueses contemporâneos.

Embora o nome já tenha sido adotado, a inauguração da biblioteca Agustina Bessa-Luís só ocorre hoje à tarde na presença do ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Paulo Rangel, que Hermano Sanches Ruivo considera ser “uma honra”, já que Portugal marca assim “mais presença em território francês e em território parisiense”.

“É uma maneira de dizer: se Paris reconhece a importância, nós, Portugal, queremos também marcar qual é a importância em ter esse reconhecimento em terras francesas”, acrescentou.

Segundo o vereador, este “é também o esforço que é desenvolvido pelas Embaixadas, pelo Instituto Camões, mas também pelas câmaras e por quem nessas câmaras tem uma visão mais alargada sobre Portugal”.

“Fiz sempre um máximo de propostas para que dentro do quadro da Europa (…) houvesse estas homenagens e, se possível, que se inscrevessem diretamente no património parisiense”, disse o primeiro português a ser eleito conselheiro de Paris em 2008, que esteve na origem da primeira placa em homenagem a Amália Rodrigues no 19.º bairro de Paris em 2010.

Desde 2014, foram ainda homenageados com a atribuição de medalhas da Cidade de Paris: Carlos do Carmo, Manuel Cargaleiro, Maria Beatriz Rocha Trindade e as porteiras portuguesas que ajudaram a proteger pessoas durante o ataque terrorista à sala de espetáculos Bataclan (2015).