
Para o júri do prémio, os seis livros que compõem a ‘shortlist’ oferecem uma “lente milagrosa através da qual se pode ver a experiência humana” e contemplam autores selecionados pela primeira vez.
Entre os finalistas da edição deste ano do Prémio Booker Internacional, que distingue uma obra traduzida para o inglês e publicada no Reino Unido ou Irlanda, apenas um se encontra publicado em Portugal, “As Perfeições”, de Vicenzo Latronico, na Elsinore.
Trata-se de um romance fortemente inspirado em “As coisas”, de Georges Perec, sobre um casal de jovens nómadas digitais, que se mudam para Berlim e que vivem ao sabor das imagens das redes sociais, procurando uma perfeição inalcançável, que dá lugar a um sentimento de permanente insatisfação, uma obra que, nas palavras do júri, é “um relato perfeito, profundo e agonizantemente bem observado do mal-estar existencial da vida milenar”.
Com o título “Perfection” e traduzido por Sophie Hughes , este romance compete com “On the calculation of volume I”, de Solvej Bale e tradução de Barbara J. Haveland, “Small Boat”, de Vincent Delecroix, traduzido por Helen Stevenson, “Under the eye of the big bird”, de Hiromi Kawakami, traduzido por Asa Yoneda, “Heart Lamp”, de Banu Mushtaq, com tradução de Deepa Bhasthi, e “A Leopard-Skin Hat”, de Anne Serre, traduzido por Mark Hutchinson.
Nas palavras do escritor e presidente do júri Max Porter, estes cinco romances e uma coleção de contos (“Heart lamp”) são “livros que expandem a mente” e um “veículo para conversas prementes e surpreendentes sobre a humanidade”.
Além do casal com vidas digitalmente organizadas, os livros escolhidos apresentam uma variedade de histórias que captam a indomabilidade do espírito humano, desde “mães” de IA (inteligência artificial) que cuidam de crianças fabricadas num mundo futurista, até à resistência e perseverança de raparigas e mulheres em comunidades patriarcais no sul da Índia.
Outras histórias incluem um protagonista forçado a reviver o mesmo dia vezes sem conta, os pedidos de socorro de migrantes num pequeno barco no Canal da Mancha, a agonia e a alegria de uma amizade duradoura à sombra de uma doença mental.
Os membros do júri leram 154 livros em seis meses e, das suas conversas e trocas de impressões, saíram estes seis livros que despertaram “o desejo de questionar o mundo que nos rodeia: Como é que estou a ver ou a ser visto? Como é que nos estamos a traduzir uns aos outros, a toda a hora? Como é que estamos presos nos nossos corpos, nas nossas circunstâncias, no tempo, e quais são as nossas opções de liberdade? Quem tem voz?”, revela Max Porter.
“Ao discutirmos estes livros, temos estado a considerar, uma e outra vez, o que significa ser um ser humano agora”, acrescentou, sublinhando que, em conjunto, estas obras “constroem uma lente milagrosa através da qual se pode ver a experiência humana, tanto a verdadeiramente perturbadora como a dolorosamente bela”.
Estes seis finalistas vão receber um prémio de cinco mil libras, a repartir entre autor e tradutor, e o livro vencedor terá um prémio de 50 mil libras, igualmente dividido entre autor e tradutor.
O vencedor será anunciado no dia 20 de maio, numa cerimónia na Tate Modern, em Londres.
Em 2024, o Prémio Booker Internacional foi para “Kairos”, de Jenny Erpenbeck, traduzido por Michael Hofmann.
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