Segundo o relatório “Making the Connection” (“Estabelecendo a ligação”, em inglês) enviado à Lusa no âmbito da Web Summit, que se focou em como o acesso à Internet é fundamental para gerar oportunidades económicas num mundo onde mais de metade da população continua sem acesso à rede, “uma geração de mulheres e raparigas vai permanecer à margem da economia digital global e perder a oportunidade de escapar da pobreza a não ser que se ligue à Internet até 2020”.
De acordo com os autores do documento, a “pobreza é sexista”, ou seja, “as mulheres que vivem nos países menos desenvolvidos têm 31% menos probabilidades de estar conectadas do que os homens”, estando neste momento 737 milhões de pessoas excluídas do acesso à Internet nesses mesmos países, o que leva à estimativa de que, em 2020, 350 milhões de mulheres e raparigas sejam deixadas para trás neste esforço.
“A capacidade de pagar é uma barreira significativa. As mulheres que estão excluídas nos países em desenvolvimento citam os elevados custos como uma das principais razões para não utilizarem a Internet. Apesar da queda dos preços nos países mais pobres, o alto número de pessoas que vivem em absoluta ou extrema pobreza significa que um plano móvel pode custar 15% do rendimento médio e até 30% por uma ligação fixa para o computador. Dadas as disparidades de género pelo mundo, ter Internet básica é um fardo financeiro mais alto para mulheres: na África subsariana, por exemplo, as mulheres auferem em média menos 48% do que os homens”, pode ler-se no documento.
A ONE Campaign, cofundada pelo vocalista dos U2, Bono, recorda um estudo de 2009 do Banco Mundial, segundo o qual um aumento de 10% em ligações de Internet de alta velocidade pode representar uma subida do Produto Interno Bruto (PIB) per capita de 1,3% para os países em vias de desenvolvimento.
Desta maneira, o relatório da organização faz quatro recomendações: mais investimento que leve a uma “revolução de competências digitais”, que sejam derrubadas as barreiras no acesso à Internet, mais investimento na disponibilização de dados sobre conectividade e que seja feita uma aposta na construção de infraestruturas para um futuro digital.
“Os líderes mundiais e os governos doadores, para além das empresas de telecomunicações e dos bancos, precisam de se unir e investir nas bases das ligações, como a política ‘Escava uma vez’, segundo a qual nenhuma nova estrada num país em desenvolvimento deve ser feita sem que sejam colocados cabos de banda-larga antes”, referiu, em comunicado, a diretora executiva da ONE para Política Global, Eloise Todd.
A ONE vai acolher, na manhã de hoje, um painel na Web Summit para discutir os desafios do acesso à Internet que enfrentam as mulheres e as raparigas.
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