Saudações nazi, defesas de Milei e os 80 anos do Holocausto

Ana Maria Pimentel
Ana Maria Pimentel

Há uma semana, na tomada de posse do presidente Donald J. Trump, o polémico gesto de Elon Musk iniciou uma pouco profunda discussão nas redes sociais e na opinião pública. Afinal que gesto foi aquele? O multimilionário foi acusado de fazer a saudação nazi enquanto discursava na tomada de posse da administração Trump.

É no dia da memória do Holocausto que o presidente da Argentina, Javier Milei, escolhe defender Elon Musk daqueles que "lançam acusações" por causa do gesto, contudo esta já não foi a primeira vez que Elon Musk se aproximou de conteúdos nazi, como lembrou o comentador João Maria Jonet na SIC Notícias. O presidente argentino considerou, ainda, que "o mundo está a viver uma situação cada vez mais parecida com o que estava a acontecer antes do início do Holocausto".

Firme defensor do Estado de Israel e muito próximo do judaísmo, Milei também agradeceu "o compromisso do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em assumir as negociações que permitirão que os reféns possam voltar para casa; entre eles, os nove argentinos que ainda estão sequestrados".

"Esta semana deve-nos dar esperança de que vamos triunfar e nos impor sobre o mal, como foi conseguido lá, no Egito", ressaltou, traçando um paralelo entre Moisés [uma das principais figuras do judaísmo] e Trump.

No dia em que se marca o 80º aniversário da libertação de Auschwitz e um ano depois de se saber que 22% dos Millenials e da Geração Z dos Países baixos acham normais pontos de vista Neonazis, talvez seja melhor levar-se a discussão do antissemitismo e dos gestos próximos à saudação romana um pouco mais a sério.

Até porque, como dizia o professor de estudos arábicos e islâmicos da Universidade de Tel Aviv, Uriya Shavit, que é também o presidente do Instituto Irwin Cotler, numa conferência sobre antissemitismo, em Lisboa, onde o SAPO24 esteve presente: “Criticar Israel é legítimo. A única coisa que não é legitima é questionar o direito de existência de Israel, ou culpar os judeus por qualquer ressentimento que as pessoas tenham em relação a Israel".

O combate à desinformação, como se sabe, é uma guerra do século XXI e no que ao Holocausto diz respeita junta-se a essa guerra a batalha pela memória. E há quem se esteja a dedicar a manter viva a memória daqueles que viveram os terrores de Auschwitz, as estratégias passam por visitas a Auschwitz, investigações policiais e TikTok, como se pode ver neste artigo.

Todos os que tentam manter esta chama viva lembram que a memória é importante e, por isso, hoje, Israel abriu o acesso ao público a centenas de milhares de documentos dos arquivos do julgamento de Adolf Eichmann, um dos organizadores do extermínio de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

E as fotografias do campo de Auschwitz-Birkenau, os testemunhos e documentos sobre a ascensão do fascismo na Europa antes da Segunda Guerra Mundial integram um dos maiores arquivos sobre o Holocausto que está acessível desde hoje na internet. No fundo, uma biblioteca online sobre o Holocausto.

Como dizia Pedro Delgado Alves na conferência “Antissemitismo: um combate sem tréguas e fronteiras que a todos convoca”, “ao fim do dia, o mais importante tem a ver com memória e educação. Estes dois eixos é que são de longo prazo e servem de armadura aos espaços de toxicidade de desinformação.” Até porque, segundo Rodrigo Saraiva, o “Holocausto é algo impossível de romantizar” e assegura que essa história deve ser partilhada com as gerações mais novas “sem paninhos quentes”.

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