Quando no ano passado Jorge Jesus assinou pelo Sporting, fiquei contente. Não fiquei eufórico, mas fiquei contente. Apesar de ter gostado muito dos trabalhos desenvolvidos por Leonardo Jardim e Marco Silva, a verdade é que, muito provavelmente, JJ não é pior treinador que ambos. Mais: tem mais anos de primeira divisão do que os outros dois juntos. Pelo que não sinto que o SCP tenha saído a perder.
E a verdade é que a primeira época de Jesus no SCP comprovou isso mesmo, e desde os tempos de José Peseiro que Alvalade não se empolgava tanto. Um super-Slimani, um cerebral João Mário, um Adrien Silva gigante, um Bryan Ruiz a transpirar classe por todos os poros, um Teo Gutierrez inconstante, mas decisivo. O recorde de pontos do SCP no campeonato foi batido. O título escapou por pormenores (como tantas vezes escapa...), mas a confiança de que JJ era capaz de devolver o SCP aos títulos, essa, já ninguém a tirava aos adeptos leoninos.
Eis então que começa nova época. Sai João Mário, sai Slimani, sai Teo e sai (já tinha saído, sendo justo) Carrillo. Entram Joel Campbell, Markovic, Bas Dost, Elias, Castaignos, Meli (Quem? Pois...), etc. Sendo justo, nenhum adepto razoável poderia dizer que, quando as transferências ocorreram, o SCP ficou a perder com a “troca” Carrillo/Teo por Campbell/Markovic. Ou que Bas Dost é “pior” que Slimani. E que Gelson, que ocupou o lugar que era de João Mário, não tem sido um dos melhores – senão o melhor jogador do SCP nesta época.
A questão, digo eu, leigo, é que não são piores, mas são diferentes.
Slimani e Teo pressionavam a saída de bola como Bas Dost ainda não consegue fazer. Repararam que só disse Bas Dost? Pois, falta lá um parceiro, não é? Alguém que consiga, durante o jogo, pressionar os defesas, descair para as alas, fazer diagonais e, claro, marcar golos. Falta um parceiro para Bas Dost e falta, acima de tudo, quem faça de “João Mário”. O irmão de Wilson Eduardo (jogador que volta e meia marca golos ao clube que o formou, sem nunca o festejar) cumpria uma dupla função: o ataque planeado era muitas vezes pautado pelos seus movimentos interiores e passes de rotura, ao mesmo tempo que, a defender, era uma ajuda preciosa para a dupla Adrien-William Carvalho.
É inegável o talento de Gelson, líder de assistências no campeonato e grande agitador do ataque do SCP. Mas Gelson não é, muitas vezes, tão consequente como João Mário. Se tudo correr bem, será. Mas ainda não é. E isso nota-se. Mais ainda porque, do lado oposto, onde era suposto estar o jogador que fizesse as vezes do João (sim, chamo-o assim, já sabem), está uma sombra. Sem férias há duas temporadas (se não me engano), Bryan Ruiz tem sido um dos jogadores que tem denotado mais dificuldades nesta primeira metade da época. É inegável o seu talento e a sua classe, da mesma forma que é também inegável que a sua performance neste ano não tem sido igual à da temporada passada. Longe disso. E o SCP ressente-se.
Tudo isto para dizer o quê? Que o ideal seria “correr” com Bruno de Carvalho e Jorge Jesus? Nada disso. Esta “azia” (obrigado pela liberdade de utilizar esta expressão, Jorge Coroado) e esta irritação extrema pela má época – não há que esconder, ainda que a mesma ainda não tenha acabado – que o SCP está a fazer só existe porque tanto BdC como JJ devolveram a esperança aos adeptos de que era possível o Sporting voltar a ser campeão.
O futebol é pródigo em ingratidão. Felizmente, eu não sou um “gajo do futebol”. Apesar de tudo, este continua a ser um jogo de pormenores. Na Luz, há umas semanas, o Sporting sofre o segundo golo depois de enviar uma bola ao poste. Em Chaves, ontem à noite, “queima” duas substituições ainda na primeira parte, devido a lesão.
Não estou a dizer que são pormenores que têm faltado ao Sporting, até porque, como já referi, alguns dos fatores que têm impedido um rendimento similar à época passada são mesmo “pormaiores”. Mas o presidente que conseguiu contratar três dos melhores treinadores portugueses da atualidade, continua a liderar o clube. E o treinador que tornou Slimani num jogador de 30 milhões de euros, pôs Adrien a jogar o dobro, lançou Gelson e “recuperou” Coates, também lá continua, sentado no banco (quando não está castigado), a gesticular efusivamente.
Numa altura em que muitos podem estar a pedir as “cabeças” de BdC e JJ, eu sou contra-corrente. Quero que fiquem. Mas quero que o SCP jogue mais e que, acima de tudo, volte a ser campeão.
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