Como não há duas sem três estamos todos à espera que rebente uma terceira guerra mundial, mais dia menos dia, e porque à terceira é de vez, é capaz de ser a última. Aliás, dar-lhe esse nome podia ajudar a dissuadir alguns governantes de embarcarem numa escalada de conflito. Se o Trump ou o Kim começarem a discursar assim: «Não me importo de ter de começar a Última Guerra Mundial», talvez as pessoas comecem a ter receio e não deem carta branca aos seus líderes para tweetar às 4h da manhã sem pensar nas consequências.
Nenhum de nós sabe grande coisa sobre geopolítica e sobre conflitos internacionais, mas as notícias que nos chegam e a pouca confiança em quem manda nisto tudo faz-nos antecipar que, mais cedo ou mais tarde, vai haver stress. Seja pelos malucos que já falei, pela situação no Médio Oriente, seja porque o Irão ou outros decidem armar chinfrim só para ver o mundo a arder, seja porque a China decide que precisa de mais espaço para a sua população, seja porque a Índia e o Paquistão perdem o medo, seja porque a Linha de Sintra decide conquistar a Linha de Cascais. Qualquer cenário é possível e mete medo, por isso, quero deixar aqui bem claro que se tal conflito mundial estoirar e forem precisas pessoas para a fila da frente, não estarei disponível.
Lamento, mas não vou para uma guerra criada por interesses políticos e financeiros ou religiosos. Estou a dizer isto só para poupar trabalho aos militares que me quiserem vir buscar a casa. A gasolina está cara e escusam de me vir recrutar à força porque não vou nessa conversa. Aliás, mal comece a guerra, vou comer que nem um javali com hipertiroidismo para engordar até aos duzentos quilogramas. A ver quem é que me consegue arrastar de casa até ao jipe do exército! Para além de que um gajo balofo é um alvo fácil na guerra e só serve para ser o primeiro a morrer e ficar ali a fazer de trincheira. Pensando bem, se calhar é melhor partir a coluna.
Mesmo que o estado islâmico invadisse Portugal eu queria lá saber. Atravessava a estrada para ir comprar umas armas à Cova da Moura com desconto de residente e depois pegava nos meus entes queridos e fugia. Não, ia ficar a defender a Buraca dos invasores, era o que faltava. Ainda se fosse guerra como antigamente, com armaduras e espadas, tudo bem. O que contava era a perícia e a bravura! Agora, podes ser o maior que levas um tiro de um sniper ou uma bomba de um avião. Não, não, não contem comigo.
Ser militar é uma profissão que só existe porque os seres humanos são uma merda. O mesmo acontece com os polícias. Não estou a dizer que não é um trabalho digno e que não é necessário no mundo de hoje, claro que é, mas se o mundo fosse perfeito estavam todos no desemprego. Ainda há pouco tempo o serviço militar era obrigatório e há quem o queira de volta, normalmente sempre gente que já não tem de ir para lá. É normal que os governantes queiram serviço militar obrigatório: mão-de-obra para recolher o lixo que eles fazem é do interesse de todos os que sabem que nunca vão ter de bater com os costados numa trincheira com uma metralhadora na mão. É o mesmo que um coveiro ser a favor da eutanásia: é parcial.
Se por acaso voltar o serviço militar obrigatório só espero que seja para homens e para mulheres, já que detestava ver pessoas a tentar bloquear os posts do Governo acusando-os de sexismo e machismo. Bem sei que o argumento mais usado por quem é a favor do serviço militar obrigatório é «Para ver se aprendem a ser homens!», que são normalmente as mesmas pessoas que dizem «Se fosse obrigatório não havia tantos gays!», o que mostra desde logo que esses dois argumentos coabitam no mesmo cérebro de um mentecapto. O que é ser homem? É andar com farda impecavelmente aprumada e botas a brilhar, dormir e tomar banho com outros homens, e seguir ordens sem questionar? Epá, então se calhar prefiro não ser homem. Vou só ali mudar de sexo até porque em alturas de guerra os gritos do neo-feminismo ficam um bocadinho calados e ninguém exige que as mulheres sejam tratadas da mesma forma e obrigadas a ir para a linha da frente. Pensando nisso, quando me vierem buscar a casa vou dizer «Não, lamento, mas eu agora identifico-me com o género feminino. Sabe que isto do masculino e feminino é tudo uma construção social e cultural? Pois, eu agora sou gaja. É pena, mas boa sorte aí na guerra.»
Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:
O filme The Man From The Earth é uma obra-prima. Suspense incrível apenas com meia dúzia de personagens fechados numa sala a conversar.
O livro Chapadas à Padrasto é, igualmente, uma obra-prima.
A série web Falta de Chá é ainda mais obra-prima que tudo o resto.
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