1. Ninguém dava grande coisa pelos russos, agora já se sabe que há que contar com eles. Têm um Aleksandr Golovin que, após os 16 jogos, distribuídos por seis dias, da primeira jornada deste Mundial de futebol, é o único a rivalizar com Cristiano Ronaldo no título de jogador mais determinante. Mas CR7 é, até agora, o ator principal deste campeonato que parece destinado a confirmá-lo na galeria das lendas imortais do futebol, um pedestal que tem no topo Pelé, Maradona e Cruijff.
2. Este Mundial não dá oportunidade ao egípcio Salah para se mostrar. Está perdida a ocasião para subir ao pódio das superestrelas do futebol. Messi não consegue libertar-se do encargo de levar a Argentina às costas e volta a ser uma deceção na seleção.
3. A Bélgica, com vários jogadores jovens de altíssima qualidade, aparece como a seleção com melhor futebol de futuro. Pode ser imparável já neste Mundial, embora o teste inicial tenha sido com o minúsculo Panamá. Hazard, De Bruyne e Lukaku estão para dar que falar.
4. O México é uma das poucas surpresas da primeira jornada. Mostrou que tem frescura e um plano construído com inteligência, equipa valente a defender e vertiginosa a atacar, que a levou a conseguir uma vitória perfeita sobre os campeões do mundo. Mas parece improvável que chegue ao pódio deste Mundial.
5. A Alemanha é a mesma coisa de sempre: alto poderio físico, grande organização, mas escassez de criatividade. Surpreendeu ver a defesa alemã desfeita nos rapidíssimos golpes de ataque dos mexicanos e, também, a incapacidade produtiva do ataque alemão nos momentos decisivos. É uma equipa sem efeito surpresa. O zero em pontos e golos marcados na primeira jornada põe a Alemanha como uma das grandes dúvidas após a primeira jornada. O título de campeão ainda não está perdido, ainda há muito campeonato para a máquina alemã se mostrar, mas está mais incerto.
6. O Brasil tem como sempre no seu futebol o ritmo do samba e o instinto para golpe da capoeira. É gente toda ela com alto talento e criatividade, domina o toque na bola, mas a construção da equipa é um trabalho que não está pronto. Surpreendeu ver o conjunto brasileiro tão às aranhas após o golpe do golo suíço que deu o empate. Será que Neymar ainda vai aparecer como jogador de equipa ou ter algum golpe de génio?
7. A Espanha continua a jogar a bola com mestria. Até está a conseguir resolver bem, com jogadores como Isco e Asensio, a sucessão de jogadores de alta classe que levaram a Espanha a campeã da Europa e do mundo. Se Cristiano Ronaldo fosse da Espanha, a equipa seria grande favorita neste mundial. Como CR7 é de Portugal, ele impôs à Espanha o dissabor de três golos que empatam as aspirações.
8. A Argentina tem Messi mas os deuses não estão com Messi. É espantoso que uma equipa tenha um génio como Messi mas ele seja um problema na equipa, depressiva. A Argentina é uma potência a criar treinadores, tem cinco em outras tantas seleções deste Mundial (Pizzi como os sauditas, Cuper com os egípcios, Gareca com os peruanos, Pékerman com os colombianos e, claro, Sampaoli com os argentinos), tem mestres como Jorge Valdano, Diego Simeone, Menotti, Pochettino, Billardo, Bielsa e muitos mais, mas o atual Sampaoli ainda não está a conseguir harmonizar os talentos.
9. A Inglaterra tem um furacão goleador, chama-se Harry Kane, mas não parece com robustez para chegar ao título conquistado em 66, no tempo do Portugal de Eusébio, Coluna, Jaime Graça, Simões, Vicente e Hilário – que grandes que eles eram!
10. A França tem Pogba, Mbappé e Griezman, tem novos laterais que dão nas vistas, como Benjamim Pavard e Lucas Hernandez, tem futebol atraente, mas não foi convincente diante da Austrália que só caiu nos descontos de tempo.
11. O Senegal é a única das quatro seleções africanas neste Mundial que sai vitoriosa da primeira jornada, 2-0 diante da Polónia do goleador Lewandowski, que ficou a zero. O Senegal tem um poderoso defesa central como Koulibaly e um avançado como Mané, que fez uma grande Champions com o Liverpool.
12. Este Mundial está sem casos fora dos estádios. A organização do sistema Putin volta a mostrar que não admite atrevimentos.
13. O único cartão vermelho só apareceu no 15º jogo deste Mundial. É facto que as arbitragens, sob o olho de um ainda controverso sistema de VAR, têm sido marcadas pela benevolência. A ver se continua um campeonato rijo sem ser agreste.
14. Portugal tem uma equipa que parece mais polivalente que aquela que há dois anos surpreendeu ao arrebatar o Europeu em França. Há soluções de sobeja para ajustar o meio campo, Bernardo Silva e Gelson Martins têm ocasião para mostrarem que são novos grandes no planeta do futebol, Ricardo Quaresma ainda terá oportunidade para deslumbrar e alimentar o “rambo” Cristiano Ronaldo que, se continuar esplendoroso como esteve frente à Espanha, pode levar a seleção ao jogo decisivo na final em Moscovo.
15. E agora? A imprevisibilidade é um elemento que está na base da excitação em volta do futebol. É um fator também determinante num torneio como este campeonato do mundo de futebol. Entre 32 seleções há umas oito que podem arrebatar o título de campeão. Tudo vai depender de um fator aleatório, o capricho no emparelhamento das equipas. É bem provável que aconteçam finais antecipadas.
O FUTEBOL DÁ ALEGRIA, MAS O MUNDO INQUIETA:
As lágrimas e o desespero de milhares de crianças separadas dos pais que são migrantes indocumentados nos Estados Unidos, mostra até que ponto pode ir a desumanidade de Trump na ambição de garantir o voto dos nacionalistas-trumpistas nas eleições parlamentares de novembro. Felizmente há repórteres que nos mostram a realidade que, apesar de violenta e cruel, tem de ser mostrada.
O novo governo populista-nacionalista em Itália está a despertar fantasmas do mais terrível passado europeu: depois de levantar muralhas aos náufragos, vem a ciganofobia. Agora, os ciganos, amanhã, talvez outros. É o crescendo do delírio racista com populismo securitário e exploração do medo.
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