Qualquer grupo acha (e bem) que deve ter um jantar de Natal. É o grupo de amigos da faculdade, o jantar da empresa, o jantar da antiga empresa de onde saímos a bem e deixámos tantos amigos, o jantar do futebol às terças, do workshop de teatro pós-contemporâneo ou do grupo de whtasapp que se formou já nem sabe porquê e até aquele preto de panamá e pénis muito comprido aparece. Se bem que, neste caso, já se sabe sempre o que vai receber quem lhe calhar no amigo secreto.
O problema para mim é que, já no resto do ano, eu acho que qualquer mínima desculpa é mais do que suficiente para ir jantar fora com os amigos. “Pessoal, faz hoje 7 anos que não entrei para Medicina, mas também nem sequer me candidatei. Vamos festejar?”, ou “Se o Djaló e a Lucy fossem casados, faziam hoje 5 anos. Vamos jantar?”, ou ainda “Fiquei sem guardanapos em casa. Bora jantar todos a qualquer lado?”. Tudo serve durante o ano todo. Logo, chega o Natal e a subjacente desculpa da celebração do amor e da amizade e eu não consigo dizer que não.
Mas enquanto os grupos a que pertencemos e que fazem jantar de Natal parecem não ter fim, a nossa conta bancária tem o seu fim a vir rapidamente contra nós. É que não é só o jantar em si. Para já, é um jantar em que se bebe muito, aumenta a conta. Depois, há troca de prendas. Há copos no Cais a seguir e os mais afoitos seguem para o Lux. Os resistentes mais loucos seguem depois para um “after” (não que alguma vez eu vá para “afters”, amigos meus é que me contaram…) e ainda se gasta mais dinheiro num croissant misto e uma mini antes de ir dormir. Junta-se a isto tudo o dinheiro da pizza e da Coca-Cola para a ressaca no dia a seguir e percebemos que vamos comer apenas latas de atum nos próximos 3 dias para conseguirmos ir ao jantar de Natal seguinte.
Mas uma coisa é certa, por mais jantares de Natal que tenha e por mais dinheiro que gaste, divirto-me tanto em cada um deles que nem me importo que todos somados cheguem a metade do valor que tenho de pagar por mês à Segurança Social e que nenhuma alegria me traz.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Gomorra: Já anda para aí a terceira temporada da série que retrata a Máfia napolitana, baseada no livro de Roberto Savianno. Livro esse que não é ficção, é uma investigação jornalística. A série está incrível. Vejam.
- Jantares de Natal: Vão ao máximo que puderem. De amigos, de trabalho, de família, do grupo de jogar à bola, da worshop de arroz basmati, todos. Lembrem-se que o Zé Pedro já não pode ir a nenhum. Celebremos nós por ele.
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