Nos ainda 28 países da União Europeia há chefes de governo da IS em apenas mais seis países, para além de Portugal: Espanha (Pedro Sánchez, 28,7% nas eleições de abril – a repetir em 10 de novembro), Dinamarca (Mette Frederiksen, 25,9% nas eleições de junho passado), Suécia (Stefan Löfven, 28,3% nas eleições de há um ano), Malta (Joseph Muscat, 54,8% em junho de 2017), Eslováquia (Robert Fico, 44,4% em 2016) e Roménia (Viorica Dăncilă, 46,9% em 2016). Na Roménia, Dăncilă, ex-eurodeputada, foi designada para tapar a saída forçada do anterior chefe do governo, Dragnea, implicado em acusações de corrupção e fraude eleitoral. Em Malta, Muscat, há seis anos no poder com ampla maioria absoluta, está salpicado por acusações que salpicam a mulher por vários negócios em paraísos fiscais, revelados pelos Panama Papers.
António Costa, agora com 36,6%, está no quarto lugar dos socialistas europeus com maior percentagem de apoios no seu país. Espanha e Dinamarca só no último ano passaram a ter governos com liderança socialista.
Há presença socialista no governo de vários outros países – o caso mais recente é o italiano, onde o Partido Democrático substituiu a ultranacionalista Liga na aliança de governo com o Cinco Estrelas.
A queda de partidos socialistas ou social-democratas na Europa tinha sido vertiginosa nas últimas duas décadas. Em França, o PS, que tinha chegado aos 56,7% no tempo de Mitterrand (governo Jospin em 1981), fez depois 40,9% em 2012 (governo Hollande/Ayrault), mas caiu em 2017 para uns quase irrelevantes 5,7%. Na Alemanha, o SPD, após ter alcançado 40,9% em 1998 (Schroeder), caiu para 20,5% em 2017 (Schulz). O PASOK grego caiu em dez anos de 44% (Papandreou, 2009) para 6%.
A queda da quase hegemonia ideológica dos partidos da Internacional Socialista coincide com as crises económicas e financeiras que empobreceram o Estado-providência, com a globalização que fragilizou as classes médias e as operárias, e com as migrações que fizeram aparecer clivagens identitárias.
Neste século XXI, grande parte dos partidos do centro-esquerda na Europa não soube dar respostas às novas questões que apareceram. Mostraram-se desamparados e sem distinção relevante das propostas da direita sobre assuntos como o desemprego, as migrações, a mundialização, os novos imperialismos ou a crise climática.
Os sindicatos que eram ligação de vários desses partidos à sociedade perderam muito da antiga influência. Muitos desses partidos perderam para novas forças políticas a liderança do discurso para reformas na sociedade, como a liberalização do aborto, o casamento para todos e até a regulação da eutanásia.
A introdução do Euro deixou muitos governos com mãos atadas para gestão de conveniências financeiras com recurso à desvalorização da moeda. Muitos partidos (a Terceira Via do trabalhismo de Blair, tal como as reformas de Schroeder) de centro-esquerda apareceram a fazer a mesma coisa que a direita, perderam a atratividade que lhes deu votos e relevância.
Um interessante ensaio, The End of the European Left, do académico britânico David Bailey, aponta que a Agenda de Lisboa, aprovada em março de 2000, com a promessa de fazer da Europa a economia do conhecimento mais robusta no mundo, com postos de trabalho hiperqualificados e ambiciosas políticas sociais, se revelou, ao fim de meia dúzia de anos, um fiasco. Aquela Agenda de Lisboa acabou por ser uma espécie de cenoura para fazer passar medidas liberalizadoras que esses governos comandados por partidos da Internacional Socialista promoveram.
A crise financeira e social de 2008 levou a que disparasse a severa sanção dos eleitores a esses partidos. Ficou aberto o espaço para crescimento de partidos liberais (agora à cabeça de oito governos europeus), populistas e até das extremas, esquerda (Grécia, com o Syriza) e direita (a Áustria foi o caso mais notório, coincidindo com o aparecimento do AfD na Alemanha e a radicalização das direitas em governos do Leste da Europa).
Nos últimos anos, o centro-esquerda europeu saiu da inércia e recuperou alguma da cor perdida. António Costa abriu em Portugal uma alternativa que é caso em estudo em muita Europa. A Península Ibérica e a Escandinávia lideram o leve regresso do fôlego desse centro-esquerda, que no entanto não aparece no núcleo central do continente (França, Alemanha – também o Reino Unido dividido sobre a Europa).
A transição energética decorrente da crise climática é um dos terrenos que algum centro-esquerda europeu tenta explorar como caminho de retoma da complexa ambição de Europa dos povos – que continua a ser uma utopia. Talvez também venha a ser uma oportunidade em Portugal, com primeira expressão em transportes públicos eficientes, com qualidade.
A ter em conta:
As sondagens em Espanha, a um mês da repetição de eleições, mostram que se está a reduzir a distância entre PSOE e PP (agora sete pontos percentuais) , ao mesmo tempo que Ciudadanos e Podemos perdem terreno. Há em Espanha quem esteja a analisar as lições das eleições portuguesas.
Estamos na semana em que vai ter de haver uma resolução sobre o Brexit. A questão da fronteira entre as Irlandas é dramática.
A ilha coreana que se está a tornar um paraíso de sustentabilidade energética.
Uma primeira página escolhida hoje.
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