Apesar de não dar jeito ao presidente em exercício — até me custa escrever o seu nome — nos Estados Unidos da América, já que tem tantos amigos que fazem fortunas com petróleo e outras formas de energia que não ajudam em nada o estado do mundo, é indiscutível que as condições em que vivemos se alteraram substancialmente e essa alteração não é fixa, existe a todos os segundos do tempo. Estamos em permanente mutação e talvez seja assim desde sempre, pode ser, mas há mil anos não tínhamos esta pegada tecnológica a poluir, a estragar, a comprimir e estender as capacidades naturais do planeta.
Uma rede de organizações não-governamentais ambientalistas avisa que vamos viver a “crédito” nos próximos cinco meses. Há novas de extensões enormes de gelo a desprender-se de glaciares. E, se estivermos atentos, outras tantas atitudes bizarras para o que comummente se aceita como o estado normal das coisas.
“Hoje, precisaríamos de 1,7 Terras para satisfazer as nossas necessidades”, esclareceu a porta-voz da WWF, Valérie Gramond, organização que pertence à rede Global Footprint Network. E Agosto é “a data em que terão sido utilizadas todas as árvores, água, solos férteis e peixes que a Terra consegue fornecer em um ano para alimentar e abrigar os seres humanos e terá sido emitido mais carbono do que os oceanos e florestas conseguem absorver”. Não foi notícia que tivesse importância significativa para abrir o telejornal, afinal estávamos todos à espera de ver se a ética e teoria se sobrepunham à prática de um vereador da Câmara de Lisboa, não foi? Agora que o assunto está resolvido talvez possamos olhar para o “bigger picture”. Ou não.
Por cá temos um primeiro-ministro que diz ter esperança que avance o furo exploratório em Aljezur. Quando já se sabe que o petróleo não é solução, nós avançamos nessa direcção? Pois. E talvez vá ao ar, à conta do dito furo, a candidatura de Sagres, Lagos e Silves a património imaterial da UNESCO, mas isso que importância é que tem realmente?
Uma coisa é certa: se há quem tenha percebido que é preciso lutar contra o uso do plástico, que práticas sustentáveis e amigáveis em termos ecológicos são cruciais para garantir o nosso futuro, há também quem opte por pensar que o que importa é o aqui e o agora. Que se lixem as gerações seguintes, afinal já cá não estamos.
Só um alerta: os países têm diferentes pegadas ecológicas, uns consomem mais, outros menos (embora possamos dizer que um terço dos alimentos acumulados vá parar ao lixo); uns têm mais gastos de energia do que outros; uns são mais poluentes e outros nem tanto. Se todos consumissem a natureza com a mesma avidez, os recursos naturais teriam acabado em Fevereiro deste ano.
Há 20 anos que a Global Footprint, uma organização não-governamental cujo objectivo é a conservação da natureza, fez as contas e mandou dizer que, com a informação fornecida pelas Nações Unidas, a biocapacidade terminaria agora, em Agosto. Voltaram a denunciar e a fazer chamadas de atenção sucessivas.
O cálculo: com dados fornecidos pelas Nações Unidas, a ONG compara a pegada ecológica do Homem - que mede a exploração dos recursos naturais do planeta Terra pelo ser humano - com a capacidade do planeta de se regenerar, renovando os seus recursos e absorvendo os resíduos. Perante as informações recolhidas, a Global Footprint determina o dia em que a exploração humana ultrapassa a chamada biocapacidade da Terra.
Em Dezembro, em Paris, teremos a conferência mundial sobre as alterações climáticas. O vice-presidente da Global Footprint, Sebastian Winkler, disse ao jornal Le Monde que as negociações serão cruciais para reduzir a pegada ecológica do homem. O que prejudica acima de tudo o planeta, pergunta-se? As emissões de carbono são as principais responsáveis pela degradação do ambiente e dos recursos terrestres. A sobre exploração da Terra e dos seus recursos fará com que em 2030 um planeta não chegue para nos sustentar. Assustador.
Como reverter tudo isto? Se os 195 países que participarão na conferência na capital francesa reduzirem em 30% as emissões de carbono talvez, talvez o planeta nos possa perdoar.
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