De acordo com um estudo da Universidade de Rochester nos Estados Unidos da América, as traduções do mundo literário para a língua inglesa – essa que pode fazer toda a diferença entre ser ou não ser um(a) escritor(a) de renome internacional – são mais um universo de disparidade: apenas três por cento de livros escritos por mulheres é que chegam à tradução para a língua universal dos dias de hoje. Vou dizer outra vez: três por cento.
Uma carreira literária é duplamente difícil para uma mulher, já que o mercado está saturado e é difícil arranjar uma editora digna desse nome e, cereja no topo do enorme bolo!, uma mulher vende menos. Não sei de nenhuma estatística que possa provar esta afirmação de que as autoras vendem menos do que os autores, mas parece-me uma presunção certeira já que se publicam mais homens do que mulheres.
Quem compra livros? Isso está estudado: quem mais compra são as mulheres. Se apenas três por cento da literatura escrita por mulheres é traduzida, fazer uma carreira internacional é quase um achado e assim se compreende que Agustina Bessa-Luís, para dar apenas um exemplo, não cause furor além fronteiras. Não, não podem invocar a portugalidade e as derivações, característica de Agustina, porque, nesse caso, tenho para contrapor Saramago, Lobo Antunes e tutti quanti que escrevem ou escreveram sobre a vidinha por estas paragens. Lemos Jane Austen e será sobre a condição humana, sobre sentimentos transversais à humanidade ou sobre a sua época? Talvez tudo junto. Há mais exemplos, mas como para bom entendedor um ou outro chega, pois sigamos em frente que é preciso.
A possibilidade de internacionalização é pouca, e o mesmo se passa com idas ao estrangeiro, basta ver as comitivas para festivais e afins. Parece que as mulheres não gostam muito de se deslocar e quem organiza festivais tem dificuldade em ter mais mulheres. Contra mim falo que, caso exista um convite, sou muito rápida a declinar, com honrosas excepções. Porquê? Porque não tenho, como sugeriu Virgina Woolf, um quarto só para mim, a minha vida é como a de tantas outras mulheres, e, entre os mil afazeres, ainda telefono à minha mãe todos os dias.
O resto podem imaginar, entre emprego, filhos e roupa, o espaço mental que tenho para escrever é diminuto, o físico é relativo e a capacidade de mandar tudo às urtigas e ir ao estrangeiro – ou mesmo só ao sul do país – para falar sobre o que ando a escrever há mais de uma década é nula. Queixo-me e não me queixo desta situação, da miragem das traduções, de ver os livros bem expostos (mesmo aqueles que têm anos), enfim, de uma carreira literária que, para todos os efeitos, nunca o será.
Em Portugal, temos por hábito pensar que a desgraça e a frustração tem um cunho lusitano. Três por cento das escritoras do mundo conseguem ser traduzidas. Estou, por isso, muito acompanhada nesta solidão.
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