Tratava-me por Pimpim.
Gostava de ler os textos em voz alta e dizia que quando morresse queria ouvir as quatro últimas canções de Strauss cantadas por Elisabeth Schwarzkopft.
Era um benfiquista ferrenho, um pessimista optimista e vice-versa, dependia da hora.
O corpo cometeu-lhe a maior traição de todas e há muito que batalhava para viver bem, com gosto. Os últimos anos não foram fáceis, os últimos meses piores. Dizia que não tinha medo de morrer, tinha medo de como viveria até morrer.
Era brilhante, excessivo, culto, humorado. E tinha defeitos, como o resto dos mortais.
Deixa uma obra de 40 livros. Escreveu sobre o amor, sobre poesia, gastronomia, cidades que amava (Roma, em especial) e sobre amizades improváveis. Teve a ideia para uma exposição a ser feita em Lisboa e fez-se, em 1998.
São poucas as pessoas com quem se pode discutir tudo. Ele era um tudólogo. Sabia da cozinha de Alain Ducasse e de Dante. Gostava dos Massive Attack e de Bach.
Era um homem que queria que a vida fosse grande. Morreu hoje. Chamava-se António Mega Ferreira, Meguinha para os amigos.
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