Putin, como estava escrito no guião, vai continuar a liderar. É ele quem move os fios na guerra na Síria, é ele quem ocupa a Crimeia em violação do direito internacional, é ele quem comanda a repressão da oposição interna na Rússia, é ele que comanda o cada vez mais poderoso e mais nuclear poder militar russo, é ele, certamente, quem ordena as operações de serviços secretos russos, seja a desencadear ciberataques e manipulações sobre países estrangeiros, seja a mandar eliminar gente incómoda tanto dentro como fora do país.
É uma personagem que dificilmente capta simpatias fora da Rússia – exceção para algumas das figuras da direita mais extrema na Europa, como Marine le Pen, efeito, certamente, do gosto do autoritarismo.
É um líder que acaba de ver revalidado o mandato que o leva a 25 anos no poder, e que se tornou mestre a negociar em posição de força, mais para impor o seu ponto de vista do que para conseguir um compromisso. É o que se vê em tantas votações e bloqueios no Conselho de Segurança da ONU.
Estamos num tempo que tem Trump nos Estados Unidos, Xi Jinping na China e Putin na Rússia. Qual dos três será mais de fiar? Tem havido alguns sinais de vontade de equilíbrio por parte do líder – pelos vistos, com tendência para mandato vitalício – em Pequim. Xi é previsível, ao contrário de Trump. Putin também não será dado a surpresas.
Os países ocidentais, após séculos de domínio do mundo, mostram uma relativa impotência. Nem se pode dizer que esse poderio foi transferido para os rivais a leste, a Rússia e a China. O mundo está mais multipolar, também mais caótico e imprevisível. Pior que no tempo da Guerra Fria, há a abertura de guerras comerciais, a par do retorno de muros e fronteiras. Muito pior ainda, o temor de conflito atómico desencadeado por quem é imprevisível. Estes são terrenos em que Putin pode ter influência estabilizadora.
Putin não tem a coragem para medir forças com a oposição interna através das urnas de voto. Ele reprime qualquer oposição que comece a crescer. Mas é um interlocutor que a Europa não pode desprezar. Assim haja competência, credibilidade – e paciência – para gerir com a melhor estratégia a relação com um tão complexo interlocutor, que pode ser determinante para melhorar o quadro no Médio Oriente e para o combate contra muito do terrorismo. E que é um parceiro necessário para tratar a questão fundamental das alterações climáticas.
O modelo político de Putin no Kremlin lembra, em muitos aspetos, o do velho sistema soviético. O líder cultiva o poder absoluto, embora maquilhado com máscaras de democracia. Entra, plebiscitado, no quarto mandato presidencial com poder ainda mais robusto. Por mais que muito do método Putin cause repulsa, é certamente um erro entrar em boicotes e jogos de olho por olho, dente por dente, com esta Rússia. Há que falar e negociar com esta Rússia.
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