Um senhor de 79 anos, ex-padre, é suspeito de ter violado uma senhora durante uma sessão de exorcismo. O ex-padre continua solto e a exercer a sua profissão liberal de “Exorcista” para a qual duvido que passe factura porque o Todo Poderoso não gosta de impostos. Além desta acusação recente, teve outras semelhantes ao longo dos últimos anos, mas nega tudo, dizendo e passo a citar: "São todos malucos". Tenho de concordar que recorrer a um exorcista não abona a favor da credibilidade das vítimas e que, sendo que a maioria dos casos de possessão são, na verdade, distúrbios mentais, talvez tenha de dar-lhe razão. Atenção que os que não são distúrbios mentais não são possessões demoníacas, mas sim doenças ou bom acting. Portanto, este senhor é gigolo e exorcista num só e acho que isso pode ser um excelente novo modelo de negócio já que se poupa trabalho e os clientes poupam dinheiro.
Em 2011, depois de algumas acusações, a diocese de Fátima emitiu um comunicado demarcando-se deste senhor dizendo que não lhe reconhecia legitimidade para as actividades religiosas e que era um abuso ele apresentar-se como padre e usar vestes sacerdotais. Ou seja, os abusos sexuais tudo bem, agora andar vestido com as nossas fantasias é que é ofensivo e dá mau nome à Igreja – como se ela precisasse de ajuda para fazer esse trabalho.
Fiquei chocado com este caso, já que nunca pensei que um padre ou ex-padre fosse capaz de uma coisa destas, sempre pensei que só abusassem sexualmente de crianças. O ex-padre continua solto e a exercer os seus rituais e admite que após as notícias da última denúncia a procura aumentou e o telefone não para de tocar. Está giro. Diz que as mulheres que agora têm recorrido ao exorcista vão sempre com a depilação feita e lingerie sexy, dada a fama de garanhão do senhor que, recordo, tem 79 anos. Será que precisa de viagra ou vai lá só com a fé?
Acho curiosa esta técnica de possuir à força uma mulher que foi possuída à força pelo demónio. Talvez seja uma espécie de “olho por olho”: o espírito entrou na senhora e apoderou-se do seu corpo, o exorcista entra no corpo da mulher que agora é do demónio e, como tal, está, na verdade, a violar o espírito maligno. Se lhe der com força pode ser que ele saia, não sei, isto dos exorcismos é preciso é tentar que nunca se sabe o que pode resultar. Talvez seja uma forma de fazer a paciente gritar “Meu deus, oh meu deus” e isso ajude o espírito do capeta a ir embora. Estes abusos sexuais são a prova que o exorcista é um aldrabão e não acredita naquilo, pois se todos evitamos cumprimentar com um beijinho alguém que está com gripe, acham que o padre ia esfregar-se em alguém que está com o diabo no corpo? Duvido. O mais irónico seria se isto acontecesse:
- Senhora pede exorcismo por pensar estar possuída pelo demónio;
- Na verdade, a senhora tem sífilis não tratada que degenerou em distúrbios mentais;
- Padre viola senhora;
- Padre contrai sífilis e fica possuído porque usar preservativo é pecado.
Os abusos sexuais e religião na mesma frase não me fazem confusão, o que causa espécie é a impunidade destes burlões: este ex-padre nem foi proibido de exercer pelo juiz porque “Exorcista” não é uma profissão regulada. Sempre me fez confusão a imunidade que os burlões têm se invocarem o nome de Deus e Jesus. Se eu andasse a vender garrafas de água a velhotes dizendo que tinha poderes sobrenaturais e curandeiros que me tinham sido transmitidos pelo grande Emanuel, unicórnio cor-de-rosa que vive nas montanhas, era logo preso por burla, mas se em vez do Emanuel, tiver sido Deus ou Jesus Cristo, ninguém me faz nada. Acontece o mesmo relativamente à doença mental: se eu ouvir vozes na minha cabeça e tiver um amigo imaginário chamado Cajó, sou diagnosticado com esquizofrenia e internado num hospício, mas se o amigo se chamar Jesus, vendo livros e ainda me dão tempo de antena nas rádios e televisão como dão à Alexandra Solnado.
Sugestões e dicas de vida completamente imparciais:
Filme: Spotlight
Livro: Luxúria, de Emiliano Fittipaldi
Evento: Festival F em Faro
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