Não é o único caso. Há também Paul Whelan, preso desde 2018 e condenado a 16 anos de prisão. Antes deles, outros passaram pela mesma situação. O caso mais famoso dos últimos anos foi o de Brittney Griner, jogadora de basquetebol que estava a fazer uma tournée, na Rússia. Acusada de ter consigo uma pequena quantidade de marijuana, foi presa em Fevereiro de 2022 e condenada a oito anos de prisão. Depois de muito vai-e-vem diplomático, finalmente em Dezembro de 2023 os russos concordaram em trocá-la pelo traficante de armas Viktor Bout, que estava a cumprir uma pena de 25 anos nos Estados Unidos.
Correntemente, segundo uma conta não verificada, há 17 cidadãos americanos a cumprir pena na Federação Russa, por vários delitos. Por outro lado, há um número não especificado de russos presos nos Estados Unidos, invariavelmente por espionagem ou por “cyber-crimes” a favor do seu país.
Duas diferenças notórias entre as prisões decretadas por uns e outros. Os detidos russos nos Estados Unidos são sempre por actividades relacionadas com espionagem ou tráfico de armas. Os detidos americanos podem ser apreendidos por uso de drogas (não por tráfico) ou por actividades não especificadas. Alguns serão espiões, mas o mais provável é que sejam presos para servirem de moeda de troca.
Dos que se sabe, destacamos Trevor Reed, detido em 2019 (por espionagem) e trocado por Konstantin Yaroshenko, traficante de drogas; Ksenia Karelina, de dupla nacionalidade, por ter consigo 11 gramas de marijuana: Marc Fogel, ex professor e diplomata, detido em Agosto de 2021, com 11 gramas de haxixe e 8 gramas de marijuana, que apanhou 14 anos; Alsu Kurmashva, jornalista da Rádio Free Europe, detida em Outubro de 2023 por não se ter registado como “agente estrangeira” e violação da censura imposta desde a Guerra da Ucrânia; e Robert Woodland, de dupla nacionalidade, preso em Janeiro por “aquisição ilegal, guarda, transporte e processamento” de drogas. Poderá levar uma pena de 10 a 20 anos. Karenina, que ia visitar a família, também foi acusada de “comportamento violento” e pode apanhar 20 anos.
Todos estes casos parecem não ter relação uns com os outros - uma apreensão de droga não é o mesmo que espionagem ou ser “agente estrangeiro” - mas têm em comum o escrutínio apertado na alfândega e a ameaça de penas de prisão reservadas no ocidente a assassinos.
Os americanos têm tentado de todas as maneiras, ou seja, diplomaticamente e através de canais não oficiais, entrar em algum tipo de acordo que permita libertar os seus cidadãos. Os resultados são desiguais e, aparerentemente, não obedecem a nenhuma lógica. Parece mais que a Federação Russa está interessada em manter as pessoas para possíveis trocas com cidadãos russos, como aconteceu com Brittney Griner e, por extensão, mostrar que não se brinca com a autoridade de Putin.
Os casos têm evoluido de maneiras diferentes. Parecem ser possíveis - até não serem. Não há nenhuma razão para manter Gershkovich, que obviamente não tinha nenhumas intenções ocultas. Já o mesmo não se pode dizer de Paul Whelan, que foi marine e teve actividades que poderiam ser consideradas suspeitas.
Não vale a pena comentar que só um inconsciente viaja para a Rússia com drogas na bagagem; mas pode-se pensar se foram esses os casos, uma vez que os acusados nunca tiveram oportunidade de confessar.
Houve também tentativas de resgatar Navalny, mas essas, na minha opinião, não tinham qualquer hipótese; e o facto é que ele foi assassinado dias antes de um hipotético acordo. Quanto aos outros, têm o destino determinado por razões impossíveis de prever.
Porque é que a Rússia de Putin segue esta política de detenções aleatórias? Aparentemente, porque pode. E eventualmente dá-lhe jeito.
Antigamente, durante a Guerra Fria, não era assim. Os espiões de ambos os lados eram apanhados e condenados, e depois trocados discretamente. Era só uma questão de tempo e de ter bons exemplares para a troca.
Com o regime de Putin as coisas funcionam de outra maneira. Para uma troca que eventualmente nem se pode vir a concretizar, há incontáveis reuniões nos sítios mais inesperados, como hotéis na Suiça e cidades do Oriente. Deixou de ser um jogo com regras mais ou menos uniformes para passar a ser uma aventura sem conclusão à vista. Ninguém duvida que ambos os lados têm espiões no país adversário, alguns “adormecidos” até serem activados; mas a perseguição agora parece ser mais aleatória.
Nos Estados Unidos estas situações tendem a ser um passivo para o Presidente em exercício, constantemente pressionado pelas famílias e pela oposição para “fazer alguma coisa”. Talvez seja mais uma razão para o Kremlin se dedicar a esta caça às bruxas, sabendo que os outros “sofrem” mais do que eles.
Uma coisa é certa: a Federação Russa não é confiável e o melhor é não por lá os pés. Também, o que pode levar alguém a visitar o paraíso putinista?
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