As eleições foram convocadas pelo governo central de Espanha com a intenção de desbloquear o impasse político que colocou a Catalunha numa fase muito áspera, mas não se vê que o essencial possa ficar resolvido. Madrid confiou que uma “maioria silenciosa” de eleitores catalães puxasse a maioria parlamentar para o lado não independentista. No entanto, os fatores emocionais – como as prisões e a espécie de exílio – continuam a mobilizar a intenção de voto independentista.
O voto está transformado num plebiscito entre o espanholismo e o catalanismo. As sondagens mostram persistente equivalência entre os dois blocos com voto na Catalunha, embora com leve tendência para o conjunto de forças independentistas, embora com menos votos, renovar a maioria absoluta que tinha no parlamento catalão.
Há um dado novo: o conjunto de forças independentistas tem agora duas tendências assumidas no seu interior. Por um lado, os que esperam utilizar os resultados eleitorais para instalar a república catalã, por outro, os que estão a pensar em como desenvolverão outra vez um governo autónomo e como será possível recompor o relacionamento com Madrid.
Vai ser muito difícil superar a atual funda fratura. A Catalunha impôs-se há 25 anos como vanguarda de progresso social e político na Europa. Barcelona tornou-se o destino mais desejado pelos estudantes Erasmus. O mal conduzido processo independentista estilhaçou tudo.
Parece à vista que as eleições a três dias do Natal não vão desbloquear a Catalunha. Todas as partes, em Madrid e em Barcelona, têm acumulado erros. A esperança que resta é a de que estejam a aprender com esses erros, e que, depois das eleições, sejam capazes de fazer autocrítica e avancem finalmente para um diálogo que abra o caminho para o indispensável recoser a convivência coletiva. Até agora, nenhum sinal dessa esperança.
A ter em conta:
Os chefes de Estado ou de governo dos 53 países da União Africana e dos 27 (já sem assento para o Reino Unido) da União Europeia reúnem-se hoje e amanhã em Abidjan para a quinta cimeira euro-africana. Esta reportagem na New Yorker mostra-nos como está em África a chave para começar a resolver muitas das atuais emergências políticas e culturais na Europa.
O Irão está na primeira linha do risco de próxima guerra no Médio Oriente? É a hostilidade ao regime de Teerão o que está a montar a improvável convergência entre Israel e a Arábia Saudita.
O que há de novo para ler? Com o fim de ano à porta começam a aparecer as revisões que nos dão perspetiva sobre o que foi publicado nos últimos 12 meses. Costuma ser interessante ter em conta as escolhas britânicas do The Guardian.
O par que faz o pleno das primeiras páginas britânicas. E uma boa questão.
O Pedro faz-nos falta.
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