Na segunda-feira, alguém comentou o roubo de comida nos supermercados, a dificuldade de adquirir alimentos básicos, a falta de poder de compra. As grandes superfícies optaram por colocar alarmes em alimentos enlatados, mas também no azeite. Na terça-feira, um médico disse-me existirem pessoas que vão ao hospital como forma de garantir uma refeição. Na quarta-feira, um jovem casal anunciou que teria de regressar a casa dos pais – não têm condições para viver de modo independente. Na quinta-feira, fui à peixaria e o linguado estava a 56 euros o quilo. Na sexta-feira, fui, como tantos, meter o Euromilhões, que isto do pensamento mágico também nos ajuda a viver.
Parecerá simplista, este retrato? Eu considero-o assustador.
Custa-me, admito, que há uma semana tenha sido glorificada com a entrega de 125 euros – atenção, é muito dinheiro, bem-vindo, obviamente –, porque me enerva a posição oficial do Governo: parece que o apoio é incrível e que está tudo resolvido. Se o Governo tivesse respeito pela malta, diria: Tomem nota disto, o próximo ano será difícil, isto dos números é relativo e está sempre a mudar; o poder de compra já não é o que um dia foi, se é que foi, tenham cuidado, vejam lá onde gastam o dinheiro. Ou seja, uma governação transparente e até pedagógica dava-me jeito, porque isto está uma miséria e as alternativas teimam em esfumar-se.
Repetidamente, tenho escrito sobre as dificuldades que vivem as gerações mais novas. Esta geração, acabada de chegar ao mercado de trabalho, porventura não conseguirá superar o que os pais conquistaram. Pior, será a geração que volta para casa dos pais. Bem sei que as notícias negativas não auguram nada de bom e que é preciso manter a esperança, mas caramba, está difícil.
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