Começaria com Jesus a mandar mensagem para o grupo de WhatsApp chamado “Apóstolo 13”, que era com ele e os outros 12, mas ele fez logo a graça no nome do grupo porque sabia que haveria uma nave com esse nome quase dois milénios mais tarde. E ele dizia “Meus putos, aqueles otários dos romanos, com aquelas sandálias que compraram todos nos saldos da Seaside, andam para aí a dizer que me vão crucificar amanhã. Tipo, lol. Bora jantar todos logo à noite? Ainda por cima é ladies night no Kalvário”. Uns dizem logo que sim, outros mandam um gif do Toy a vomitar e a escorregar a sair do elevador, outro manda uma foto de uma data de romanos à volta de uma cruz, mas quando o pessoal abre a foto para ver melhor, quem está crucificado é aquele senhor preto, com um panamá verde e uma toalha ao pescoço, a segurar a sua pila que é maior do que a própria cruz. A malta ri-se e o jantar fica combinado.
À noite chegam à taberna de Charretecify – Jesus já tinha feito uma instastorie a dizer para o pessoal usar o código dele JESUSCRISTOÉOSENHOR para terem 10% de desconto na viagem. O jantar é fixe, sempre tudo a fazer stories dos brindes “E se Jesus quer ser cá da malta, tem de beber o seu sangue até ao fim, até ao fim!”. As brincadeiras do costume. Tudo divertido, sem se aperceberem que o Judas esteve a noite toda a fazer tweets a tentar lixar Jesus, tipo: “@fcancio e @ritaferrorodrigues, o Jesus tem estado a noite toda a dizer que a Maria Madalena merece receber menos moedas só porque é mulher” e coisas do género.
Claro que isto no dia seguinte já tinha ganhado proporções grotescas nas redes sociais e Jesus foi mesmo condenado. Portanto, era Sexta-Feira (na altura ainda não Santa), e o Judas – para completar a traição – vai para a porta da casa onde estava Jesus e manda um share location a um amigo que tinha na Guarda Romana. Foram lá, disseram ao Jesus que estava condenado e que tinha que levar aquela cruz até lá ao cimo do monte. Como se não bastasse, Jesus nunca tinha ido ao cimo daquele monte, e por isso teve de ir a segurar a cruz nas costas com uma mão e na outra levava o telemóvel com o Waze ligado para não se perder, e também para não apanhar operações stop porque ainda estava com bafo do dragão por causa da bubadeira da noite anterior.
Chegou ao cimo do monte, a multidão a fazer stories, claro, e lá foi crucificado com a multidão a gritar “Machista! Porco! Machista!” e ele “ó pessoal, porra, era só uma piada!”. Mas era tarde de mais, tiraram-lhe o telemóvel da mão antes de acabar de fazer uma review no TripAdvisor a dizer que a vista dali era um mimo.
Lá ficou sossegado e só voltou à net três dias depois para fazer um post no Facebook a dizer que estava farto do politicamente correcto e que os limites do humor estão na cabeça de cada um.
Expulsas que estavam a raiva e a frustração pelo teclado, foi relaxar para o Tinder e, sem grande surpresa, fez match com a Maria Madalena.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- O Mecanismo: A série de que mais se fala no Brasil. É sobre a operação Lava-Jato e podem ver na Netflix. Parece incrível.
- Miss Jappa: Bom restauranto no Príncipe Real para quem gosta de sushi e ramen.
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