É ainda um pouco embriagado de amor, como se pode ver por esta abertura de crónica tão foleira, que me sinto depois de quatro dias de festa. Aliás, devo-vos também um pedido de desculpas pelo atraso deste habitual texto que só agora sai. Foi intenso. De amor, sim. De cerveja e vinho, também.
Cumpri 34 anos de vida cada vez mais consciente da importância dos outros. Não que só agora o tenha descoberto, mas a cada ano que passa — e que passo — vou aprofundando a relação do meu eu com os outros e, inevitavelmente, a impossibilidade da sua subsistência sem eles. Não apenas na rotina do dia-a-dia ou das festas em datas mais ou menos ilustres, mas enquanto sendo a única coisa que realmente importa. Os outros. As conversas dos outros, os risos dos outros, a alegria dos outros, o amor dos outros, as histórias dos outros, as bebedeiras dos outros e até as ressacas dos outros. São os outros que me preenchem.
Bem sei que tudo isto parece óbvio. E é. Mas às vezes não parece ser. Quando tanto se valoriza o material, o supérfluo, o oco, o volátil e o descartável. Por todo o lado é-nos impingido um ideal de vida construído na mais falsa premissa da felicidade advir da tangibilidade do material que o dinheiro nos compra, e não da intangibilidade que os outros nos oferecem. E crescendo num mundo assim, é inevitável que deixe marcas na nossa percepção do que mais tem valor, que por vezes, e a tanta gente, consiga ludibriar sobre aquilo que lá nos vai dando alento nesta ausência de explicação para o sentido de existir.
Pelo menos, para mim, que não acredito em deus algum, nem nesses que as pessoas inventaram, nem no de Espinosa que está na Natureza das coisas, embora este me faça bastante mais sentido. Talvez um dia acredite.
Não obstante o sentido que faça ou deixe de fazer, é nos outros que eu o consigo vislumbrar. É pelos outros que acredito no que acredito e que defendo o que defendo. É aos outros, família, amigos e conhecidos, a quem devo o prazer de estar vivo. É todos vocês, os meus outros que me constroem o meu eu, a quem agradeço por mais um ano.
É capaz que isto tenha ficado mais lamechas do que pensava, mas é domingo à noite e com certeza perdoar-me-ão.
Sugestões mais ou menos culturais que, no caso de não valerem a pena, vos permitem vir insultar-me e cobrar-me uma jola:
- Feira do Livro: Já lá fui. Muito bem organizada e a respeitar todas as normas de segurança. Logo vos digo os livros que comprei, quando tiver terminado as compras.
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